"Podemos desde já usar o porto de Sines e o gás moçambicano será muito bem-vindo, se o escolher como ponto de entrada na Europa", referiu António Costa, à margem do Fórum de Negócios Portugal-Moçambicano, em Maputo.
A decisão está nas mãos das empresas petrolíferas e de energia e a produção que está prestes a arrancar na plataforma flutuante da bacia do Rovuma já está vendida por 20 anos – ainda assim, a vontade política de aproximação nesta área ficou patente, numa altura em que uma crise energética afeta o mundo e, em particular, a Europa.
A "primeira resposta" à crise passa por acelerar o uso de energias renováveis, uma transição em que serão necessários "recursos como aqueles em que Moçambique é rico, como o gás natural".
"O início da exploração de gás natural em Moçambique não podia vir seguramente em melhor altura para Moçambique e para quem é importador, como somos quase todos os países da União Europeia (UE)", sublinhou.
"É por isso que temos todo o interesse que rapidamente se estabilize a segurança em Cabo Delgado: por razões humanitárias" e "por razoes que têm a ver com o desenvolvimento de Moçambique, mas também para que a exploração de gás possa ter pleno aproveitamento em mercados que necessitam, como o europeu", acrescentou.
Os ataques armados na província nortenha têm impedido a construção das fábricas de liquefação de gás em terra, que poderiam fornecer novos clientes, restando a plataforma flutuante Cora Sul, cuja produção arranca antes do final do ano e entregue à BP até 2042.
"Se não aumentarmos a oferta de gás natural, dificilmente responderemos a esta crise global de inflação que se vai transmitindo de produto em produto, país em país e contamina a economia mundial", ilustrou António Costa.
"Moçambique vai ser seguramente um feliz contribuinte para a solução da crise energética mundial", antecipou o primeiro-ministro português.
A haver capacidade de fornecimento, "nós temos todo o interesse" em que o gás moçambicano assim como de outras origens "possa entrar na europa pelo porto de Sines" – seja para alimentar a futura interligação a Espanha e França, seja de imediato por trasfega.
"Estamos a criar condições para que, entretanto, o porto de Sines possa funcionar como porto de trasfega de gás natural", destacou Costa, apontando a infraestrutura como o porto do Atlântico "mais perto do continente africano" e com águas profundas.
"Não está sobrelotado como estão os portos do centro e norte da Europa", ou seja, "a operação de atracação e trasfega" é mais rápida em comparação com portos "da Holanda", exemplificou Costa.
Tal significa uma poupança de quatro dias por viagem de ida e volta, o que considera relevante no mercado dos "grandes metaneiros", cargueiros de gás natural que "são um bem escasso a nível mundial".
"Poupar quatro dias em cada viagem aumenta imenso a capacidade de exportação e fornecimento de gás", assinalou.
Questionado pelos jornalistas, Nyusi remeteu o assunto para as empresas exploradoras de gás.
Já na quinta-feira, o chefe de Estado tinha admitido estar em estudo a construção de uma segunda plataforma para continuar a exploração autónoma de gás, em alto mar, enquanto a situação em terra não estiver segura para a construção dos projetos de maior dimensão.