“A crise económica, a par das questões de segurança pública que aqui vivemos notadamente nas grandes cidades, muito agravadas pela pandemia”, são algumas das razões apontadas por Alcides Martins, em entrevista à Lusa, para que o número de brasileiros a residir em Portugal tenha aumentado substancialmente.
Nas grandes cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, considerou o vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público Federal, que nasceu em Portugal em 1948 e que se mudou para o Brasil em 1962, tem havido um crescendo número de “pessoas sem teto, alimentação e sem esperança”, aliado ao crime e roubos que se vivem constantemente nestas cidades.
O que faz “com que muitos busquem outras paragens”, sublinhou, lembrando que outrora as rotas migratórias mais comuns estavam ligadas aos Estados Unidos, mais precisamente para o estado da Florida.
“Mas passaram também a tomar um novo rumo e a buscar o seu regresso para a Europa”, para Portugal, disse.
Um levantamento da rede brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional indicou que o número de pessoas a passar fome no Brasil quase dobrou entre 2020 e 2022, passando de 19 milhões para 33,1 milhões em abril. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registou 47.503 homicídios em 2021, 20,4% do total registado em 102 países com dados públicos em 2021.
Os brasileiros são a principal comunidade estrangeira residente no país, representando no ano passado 29,8% do total, o valor mais elevado desde 2012.
No final do ano passado, viviam em Portugal 204.694 brasileiros, sendo também a comunidade oriunda do Brasil a que mais cresceu em 2021 (11,3%) face a 2020.
O luso-brasileiro considera ainda que Portugal “tem sido generoso” no que diz respeito à concessão de nacionalidade, mais um incentivo para a migração brasileira.
“Portugal tem sido generoso. A questão da descendência, da possibilidade de conceder nacionalidade, não apenas aos lusodescendentes”, lembrando também a possibilidade de concessão da nacionalidade portuguesa ao abrigo da Lei da Nacionalidade para os judeus sefarditas (judeus originários da Península Ibérica que foram expulsos de Portugal no século XVI).
No final do mês passado, o parlamento português aprovou um novo visto para cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que permite a entrada no país com o objetivo de procurar trabalho durante seis meses, faltando apenas a promulgação do Presidente da República para entrar em vigor, o que deverá facilitar e impulsionar a migração brasileira.