"Tenho falado com alguns concessionários (…) e isto é uma questão perfeitamente menor para eles, porque o setor enfrenta um momento tão crítico, com tantos desafios, que isto lhes passa completamente ao lado", disse Roberto Gaspar à Lusa, quando questionado sobre os efeitos que os novos mecanismos de segurança poderão ter no preço final dos automóveis.
No passado dia 06, entraram em vigor nas novas medidas adotadas em 2019 pelo Parlamento Europeu e pelos Estados-membros que introduziram a obrigatoriedade, em modelos novos, de dispositivos de segurança de assistência ao condutor para melhorar a segurança rodoviária.
Com estes sistemas avançados obrigatórios de assistência, a União Europeia estima que sejam salvas 25.000 vidas e sejam evitados pelo menos 140.000 ferimentos graves até 2038.
Entre estes mecanismos estão a adaptação inteligente de velocidade, a deteção de obstáculos em marcha-atrás com sensores ou câmara, avisadores de sonolência e da atenção do condutor, um aparelho de registo de eventos, sinal de travagem para todos os veículos.
Já para os ligeiros, passam a ser obrigatórias funções adicionais, como os sistemas de apoio à manutenção na faixa de rodagem e a travagem automatizada, enquanto nos pesados, são agora necessárias tecnologias para melhorar o reconhecimento de eventuais ângulos mortos, avisos para evitar colisões com peões ou ciclistas e sistemas de controlo de pressão dos pneus.
Os modelos já existentes terão dois anos para adotarem estes mecanismos.
Para Roberto Gaspar, há "uma consequência lógica: os modelos vão encarecer" e, sobre isso, "não há volta a dar", mas, considera que para o condutor é "um passo em frente do ponto de vista da segurança".
"A partir do momento em que são exigidas em todos os modelos que saem de fábrica, isto, logicamente, significa um encarecimento das viaturas. Não quer dizer que ao longo do tempo isto não fosse introduzido", disse, remetendo para a introdução de sistemas como ‘airbags’, ou a travagem ABS.
Ainda assim, considerou que já se assiste ao encarecimento da média dos novos automóveis "por estarem a ser conduzidas cada vez mais viaturas eletrificadas".
Roberto Gaspar alertou que há, no entanto, uma preocupação maior entre as empresas do setor, que é a alteração do paradigma da venda dos automóveis.
"Existe uma questão que vai mudar o mercado de forma brutal, que tem que ver com o modelo de distribuição. Os fabricantes estão a apostar em novos modelos de distribuição", afirmou, referindo a passagem de um modelo com concessionários para um modelo direto para o consumidor através de agentes ou de plataformas ‘online’.
"O modelo de distribuição que conhecemos durante imensos anos: um fabricante, um importador e um determinado grupo de concessionários a fazerem a distribuição regionalmente — acabou. O que estamos a falar é o fabricante fazer vendas diretas para os grandes operadores — como gestoras de frotas, ‘rent a car’, grandes operadores de mobilidade", acrescentou.
Agora, diz, o setor atravessa "o período mais disruptivo que viveu nos últimos 100 anos que viveu enquanto indústria".
"Estamos a falar de mudanças drásticas, estamos a falar da mudança dos motores térmicos para motores eletrificados — em grande parte por pressões políticas, não é pela procura, não é pelo normal funcionamento do mercado, independentemente do mérito das razões", acrescentou, referindo-se à transição energética.
Com base neste regulamento relativo à segurança geral dos veículos, a Comissão Europeia espera ainda adotar neste verão regras técnicas para veículos automatizados e conectados, pretendendo focar-se nos veículos que substituem o condutor nas autoestradas (automatização de nível três) e nos veículos totalmente autónomos, como os vaivém urbanos ou os robotáxis (automatização de nível quatro).