“Estou muito consciente do facto de que as fraturas que existem no país me levarão não apenas a ter maioria na Assembleia, mas também a ter de unir forças políticas que não pensam como eu, mas que estão dispostas a fazer algumas reformas”, afirmou Mácron em entrevista ao canal France 2.
Depois de ter conquistado, no domingo, 27,84% dos votos da primeira volta das eleições presidenciais, ficando à frente da segunda candidata mais votada – a líder de extrema-direita, Marine Le Pen, que obteve 23,15% da votação –, Macron mantém-se à frente nas sondagens para a segunda volta, embora com uma margem muito pequena em relação à adversária.
Macron tem feito campanha para ganhar o apoio do eleitorado que votou noutros candidatos, já eliminados, em particular os que apoiaram o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, (21,95%), a conservadora Valérie Pécresse (4,78%) e o ecologista Yannick Jadot (4,63%).
Na entrevista, Macron criticou Le Pen e os seus planos de reforma da Constituição por referendo, que, na sua opinião, desvalorizam e ignoram a posição vinculativa das duas câmaras parlamentares.
“É uma loucura”, acusou.
Macron considerou também que “apesar de todos os esforços [para a esconder], voltou a ser visível a verdadeira cara da extrema-direita, que não respeita as liberdades, o quadro constitucional, a independência da imprensa e liberdades fundamentais (…) como a abolição da pena de morte”.
O Presidente aludia a uma posição defendida na terça-feira por Marine Le Pen, que admitiu a possibilidade de organizar um referendo de iniciativa popular (com a assinatura de 500.000 eleitores) sobre a pena de morte, abolida em França em 1981, embora a candidata tenha garantido que não quer restaurá-la.
Macron admitiu que, se vencer no dia 24, poderá ser feita uma reforma institucional para aumentar o mandato presidencial dos atuais cinco para sete anos, sublinhando, no entanto, que isso não o afetaria, já que ele já teria esgotado o limite de dois mandatos de cinco anos estabelecido pela Constituição.
O candidato ao segundo mandato indicou que o que propõe é a criação de uma comissão multipartidária para preparar uma proposta de reforma constitucional a apresentar às duas câmaras parlamentares, nomeadamente para aumentar o mandato para sete anos e instituir um sistema de eleição por proporcionalidade nas legislativas.
Macron avançou ainda a sua disponibilidade para modificar a prometida reforma das pensões, que aumenta a idade mínima de reforma para os 65 anos, mais três anos do que o limite mínimo atual de 62 anos.
Segundo sublinhou, esta alteração tem de ser feita para garantir o financiamento do sistema no médio prazo, indexando as pensões à inflação e aumentando o valor das pensões mínimas para 1.100 euros por mês, sendo que atualmente estão abaixo dos 1.000 euros.
O candidato do partido Em Marcha salientou que o seu plano é que a mudança da idade mínima de reforma comece a partir de 2023, aumentando a um ritmo de quatro meses por ano, mas afirmou estar disposto a antecipar uma das fases de revisão da reforma, passando para os 64 anos em 2027-2028.
A segunda volta das presidenciais em França – que será disputada entre Mácron e Le Pen – vai realizar-se a 24 de abril, com as sondagens a apontarem para uma reeleição do atual Presidente, com 54% a 51% das intenções de voto, contra 46%-49% para Le Pen.