Numa carta datada de 11 de março e divulgada hoje, os 36 signatários pedem ao comité para que reabra, até 30 de março, o prazo para as nomeações para o prémio deste ano, que terminou em 31 de janeiro, devido aos “acontecimentos históricos e sem precedentes” na Ucrânia.
“O mundo está chocado com as imagens de guerra vindas da Ucrânia. Milhões de famílias vivem agora com medo, as suas casas e meios de subsistência ameaçados pelos bombardeamentos e por um exército invasor. Somos testemunhas da coragem do povo da Ucrânia em resistir a esta guerra travada pela Federação Russa”, afirmam na carta.
Os signatários admitem tratar-se de uma alteração dos procedimentos do comité norueguês, mas consideram que se justifica.
“É nosso dever democrático fazer frente ao autoritarismo e apoiar um povo que luta pela democracia e pelo seu direito à autogovernação”, afirmam.
A carta é assinada por 36 políticos europeus, maioritariamente dos Países Baixos, mas também do Reino Unido, Alemanha, Suécia, Estónia, Bulgária, Roménia, Eslováquia e Bélgica.
A lista inclui os ex-primeiros-ministros Guy Verhofstad, da Bélgica, e Andrus Ansip, da Estónia, bem como atuais e antigos deputados ao Parlamento Europeu.
Segundo a vontade de Alfred Nobel, o magnata sueco que instituiu os prémios com o seu nome, professores universitários de direito, história e ciência política, deputados, antigos laureados e membros de tribunais internacionais, entre outros, podem nomear candidatos para o prémio da Paz.
O comité noruguês confirmou que há 343 nomeados para o prémio deste ano, mas está obrigado a não revelar nomes de candidatos num prazo de 50 anos.
A divulgação de nomes de candidatos só é feita por quem os propõe.
Entre os nomeados deste ano contam-se a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, a figura da oposição bielorussa Svetlana Tikhanovskaya, o Papa Francisco, o Conselho Ártico e o movimento birmanês de desobediência civil.
Em 2021, o Nobel da Paz foi entregue aos jornalistas Maria Ressa (Filipinas) e Dmitry Muratov (Rússia) “pelos seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e uma paz duradoura”.
Muratov é editor do jornal Novaya Gazeta, que optou por retirar do seu ‘site’ várias reportagens sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia para poder continuar aberto, depois de ter recebido vários avisos das autoridades de Moscovo.
A decisão, anunciada no início deste mês, foi sujeita a uma consulta interna, com cerca de 94% de votos a favor da retirada de conteúdos “ilegais” para continuar a funcionar, em vez de suspender a publicação, opção que recebeu 6,1% dos votos.
A votação foi organizada depois de o Ministério Público e o regulador dos meios de comunicação social da Rússia, Roskomnadzor, terem exigido à Novaya Gazeta e a outras empresas independentes para removerem conteúdos que descrevessem os acontecimentos na Ucrânia como “invasão”, “guerra” ou “agressão”.
As autoridades russas designam oficialmente a invasão e guerra na Ucrânia por “operação militar especial”.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, desencadeando uma guerra que provocou um número ainda por determinar de baixas civis e militares.
Até ao final do dia de quarta-feira, ONU confirmou a morte de 780 civis, incluindo 58 crianças, mas tem alertado que os números reais “são consideravelmente mais elevados”.
A guerra, que entrou hoje no 23.º dia, também levou à fuga de quase cinco milhões de pessoas, mais de três milhões das quais para os países vizinhos, na pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Lusa