No retalho alimentar, afirmou o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, o setor já tinha "sido de alguma maneira" sensibilizado pelos seus fornecedores, ainda em dezembro, de que "os preços iam aumentar".
Ou seja, "a tabela de preços que nos é apresentada genericamente nos bens de grande consumo para o retalho alimentar já tinha sido sinalizada em dezembro do ano passado que ia ser alterada, portanto as consequências estão a sentir-se agora, nos meses de janeiro e fevereiro", acrescentou o responsável.
Questionado sobre qual o aumento sobre os produtos, Gonçalo Lobo Xavier adiantou que é "na ordem dos 10% nalguns casos".
Isto "porque nós também os adquirimos com esse aumento e é impossível não os fazer refletir no preço final" para o consumidor, explicou.
Sobre o tipo de produtos que tem sido alvo de aumento de preços, Gonçalo Lobo Xavier apontou todos os que "estão à volta dos cereais", a carne, onde se inclui a de vaca e de porco, bem como "arroz e massas, produtos que dependem muito de um certo tipo de produção e de uma fileira".
O diretor-geral da APED asseverou que o setor fez um "esforço" para não refletir a subida dos custos no preço ao consumidor, mas não foi possível evitar.
"Fizemos um esforço muito grande para tentar impactar o menos possível estes aumentos, nomeadamente, com eficiência na logística e no transporte e na mobilidade, mas torna-se neste momento impraticável", argumentou Gonçalo Lobo Xavier.
"Infelizmente, parece-me que com todas estas tensões geopolíticas a que estamos a assistir na Europa, esta pressão dos preços por via do aumento de vários" fatores, entre os quais da energia das matérias-primas, "não irá abrandar e irá ficar já para o segundo trimestre", sublinhou.
"É evidente que, a par disto, estão alguns fenómenos que estão a acontecer e que estão naturalmente, do ponto de vista da produção agrícola nacional, e mesmo alguns produtos em que Portugal não é autossuficiente e tem que ir buscar a outros Estados-membros e a outros locais do mundo", em que "já estamos a sentir o aumento dos preços decorrente da própria produção", acrescentou.
Gonçalo Lobo Xavier referiu que "a produção está a sentir uma pressão enorme na sua própria linha de desenvolvimento", nomeadamente nas questões dos cereais, nas rações por via da falta de pastagens e da seca, o que tem como consequência a necessidade de alimentar os animais com outro tipo de alimentos, e "isto está de facto a encarecer o cabaz e a pôr uma pressão bastante grande".
O diretor-geral da APED sublinhou, uma vez mais, que o retalho alimentar "não é um negócio de margens muito altas", recordando que estas são "na ordem dos 2%, 3% em toda a Europa e Portugal não é exceção".
Além disso, "o que estamos a verificar é que, sendo um negócio de volume, é cada vez mais difícil não transportar estes aumentos de custos" apresentados pelos fornecedores, quer seja de produção agrícola ou na parte industrial, acrescentou.
O aumento de preços, sublinhou, acontece não por via das margens, mas "por via dos custos que estão associados".
O retalho especializado tem "sentido também alguns aumentos de preços, sobretudo na eletrónica", adiantou, como consequência da crise da falta de semicondutores (também conhecidos por ‘chips’).
A escassez desta matéria-prima tem como consequência o aumento dos preços no setor da eletrónica.
Nos casos em que "temos uma maior dependência na produção estrangeira, na Europa e de fora da Europa (…), aí estamos claramente a sofrer os efeitos dos preços dos custos dos transportes e dos custos da energia", salientou.
O retalho alimentar e o retalho especializado são "dois segmentos diferentes em que do ponto de vista de políticas públicas não nos parece possível fazer muita coisa", considerou.
"Só do ponto de vista da energia, mas até mesmo isso" implica "ações concertadas a nível europeu para travar a escalada do aumento de preços da energia", disse Gonçalo Lobo Xavier.