O Tribunal Criminal de Paris voltou a pronunciar esta sentença, como já o havia feito há três anos, depois de o Supremo Tribunal de Justiça ter ordenado a revisão da punição, considerando que um dos crimes não poderia ser tido em conta.
Apesar disso, por recomendação do Ministério Público, não reduziu a pena contra o autoproclamado “revolucionário profissional” que, com esta nova pena, terminou a sua jornada legal em França, onde está preso desde que, em 1994, foi detido pelos serviços secretos franceses no Sudão.
Quase a completar 72 anos, Carlos aproveitou os dois dias de audiência para negar a sua participação nos factos e para denunciar “uma justiça corrupta” que montou o caso para lhe atribuir o ataque. Após a leitura da sentença pediu para cumprir a pena na Vnezuela, seu país de origem.
De camisa branca, casaco azul-claro e lenço no pescoço, Carlos, também conhecido por “Chacal”, reconheceu ter matado 83 pessoas durante a sua vida, “muitas, mas não o suficiente”, num contexto de guerra e de luta revolucionária.
No entanto, evitou assumir a responsabilidade pelo atentado por que estava a ser julgado, considerando “traidores” os que revelaram os atos cometidos no âmbito de uma organização, no caso a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP).
“Alguém me viu a atirar aquela granada?”, perguntou Carlos, que considerou o caso “uma vergonha para a França” e interrompeu frequentemente a acusação com gritos “é falso”.
O procurador considerou que o atentado em 1974 “inaugurou uma era de ataques às cegas”, porque, defendeu, foi dirigido pela primeira vez contra anónimos.
Muito combativo durante os dois dias do processo, Carlos chegou a interromper a sua advogada, Isabelle Coutant-Peyre (que também é sua mulher, pois casaram-se na prisão), que o repreendeu várias vezes.
“Se quiser, pode apelar, mas eu perco a concentração se me interromper", disse a advogada, visivelmente contrariada com o cliente e marido.
Na declaração final, Carlos afirmou sentir-se “orgulhoso da jornada revolucionária” que viveu, mas negou que existam provas que o incriminem neste caso e acusou as “forças sionistas” de terem falsificado a acusação.
“A França é um grande país, mas há quem continue a colocar dinheiro para acusar gente como eu”, concluiu Carlos, figura central na luta armada comunista das décadas de 1970 e 1980.
Ilich Ramírez Sánchez já fora condenado à pena máxima permitida pelos tribunais franceses em duas ocasiões anteriores: em 1997, pelo assassínio de dois agentes dos serviços secretos franceses e de um informador, e, em 2011, por quatro ataques cometidos entre 1982 e 1983, nos quais 11 pessoas morreram e quase 200 ficaram feridas.
A influência de Carlos aparece noutras espetaculares ações armadas assinadas em nome da FPLP, como a tomada de reféns na embaixada da França em Haia, que correu ao mesmo tempo que o atentado em Paris, a tentativa de ataque contra dois aviões israelitas em Orly, também no mesmo ano, ou o sequestro dos ministros do Petróleo dos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em Viena no ano seguinte.
Após vários anos refugiado em países do leste europeu, ou em países árabes, os serviços secretos franceses acabaram por o prender no Sudão, em 1994.