A televisão foi o meio em que mais trabalhou e que lhe deu maior visibilidade, tendo participado em mais de 60 programas, entre telefilmes, séries e telenovelas.
A sua carreira como atriz remonta, no entanto, a 1983, quando, com 19 anos, se estreou profissionalmente no Teatro Maria Matos, no musical “Annie”, de Thomas Meehan, dirigido por Armando Cortez.
A este sucederam-se vários outros espetáculos de revista no Parque Mayer, até participar, na Casa da Comédia, em “O Último dos Marialvas”, de Neil Simon, peça estreada em 1991, que lhe daria visibilidade e reconhecimento como atriz de comédia.
Depois de várias atuações em espetáculos de revista, sobretudo no Teatro Maria Vitória e no antigo Variedades, Maria João Abreu passou pelo Teatro Aberto, onde trabalhou com João Lourenço em “As Presidentes”, de Werner Schawb, e com José Carretas, em “Coelho Coelho”, de Celine Serreau. Com Manuel Cintra e José Carretas, fez também “Bolero”, apresentado no Centro Cultural de Belém (CCB).
Mas não foi só de alegrias, sucesso e reconhecimento que a sua carreira profissional foi feita. O teatro também lhe trouxe desgosto e sofrimento, como contou numa entrevista a Daniel Oliveira, no programa "Alta Definição", em 2019, na qual confessou ter sido vítima de ‘bullying’, ao ponto de “ir parar ao hospital com um ataque de ansiedade”.
“Foi grave, muito grave. Tive muitos pesadelos. Cheguei a pensar que fosse algo pessoal. Foi-me dito que não, de pessoas que já tinham sido vítimas de ‘bullying’ da mesma pessoa”, revelou na altura, contando que era olhada com “ódio”, cuspida na cara, apertada e empurrada antes de entrar em palco.
A vida profissional de Maria João Abreu sofreu uma reviravolta em 1998, ano em que fundou, com o também ator José Raposo (com quem estava casada desde 1985), a produtora Toca dos Raposos, responsável por sucessos como a revista “Ó Troilaré, Ó Troilará” e o musical “Mulheres ao Poder”, uma adaptação da "Lisístrata", de Aristófanes.
Foi também nesse ano que tomou a personagem Lucinda, uma empregada doméstica com sotaque nortenho, na série televisiva “Médico de Família” (1998-2000), e a transformou numa das protagonistas da ação.
O sucesso desta série, exibida em horário nobre, garantiu a sua presença no ‘pequeno écrã’ durante três temporadas e 118 episódios, ao longo de quase três anos de emissão, contando no elenco com atores como Fernando Luís, Henrique Mendes, Ricardo Carriço, Rita Blanco e São José Lapa.
No cinema, a estreia de Maria João Abreu deu-se em 1999, com o filme “António um rapaz de Lisboa”, de Jorge Silva Melo, seguindo-se depois participações em obras como “Amo-te Teresa”, de Ricardo Espírito Santo e Cristina Boavida, “Telefona-me”, de Frederico Corado, e “A Falha”, de João Mário Grilo.
Mais recentemente, participou em filmes como “Call Girl”, de António-Pedro Vasconcelos, “Florbela” de Vicente Alves do Ó, “A Mãe é que Sabe”, de Nuno Rocha, e “Submissão”, de Leonardo António.
Ao longo dos seus mais de 35 anos de carreira, e apesar das muitas requisições para televisão, Maria João Abreu nunca deixou o teatro nem a revista, uma das suas paixões, tendo coprotagonizado, em 2004, “A Rainha do Ferro Velho”, de Garson Kanin, encenada por Filipe La Féria, no Teatro Politeama.
Por estes anos da primeira década de 2000, entra em produções como "Tem a palavra a revista", "A revista é liiiinda!", "Isto é Parque Mayer" e "Já viram isto?!", todas no Teatro Maria Vitória, e em "O estádio da nação", no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, a que mais tarde se seguem comédias como "As encalhadas", numa versão de Ana Bola, com Helena Isabel e Rita Salema, "Eu conheço-te", de Heitor Lourenço, e "Pobre milionário", de Francis Veber, com Miguel Guilherme.
Num registo diferente, por entre as várias produções de comédia e de revista desta altura, fez também, nos Artistas Unidos, "Cada dia a cada um a liberdade e o reino", uma conceção de Jorge Silva Melo a partir de textos Almeida Garrett, Passos Manuel, Sá Carneiro, Henrique de Barros e Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros autores.
Em 2012, protagonizou a peça “O Libertino”, de Eric-Emmanuel Schmitt, dirigida por José Fonseca e Costa, no Teatro da Trindade, contracenando com José Raposo, Custódia Gallego e Filomena Cautela, depois de o projeto não ter chegado a cena, no Teatro Nacional D. Maria II, como previsto.
Dois anos mais tarde, Maria João Abreu entrava na ‘revista-musical’ “Portugal à gargalhada”.
Ainda em 2014, quando passavam 40 anos sobre o 25 de Abril, participou na encenação de "Coragem hoje, abraços amanhã", de Joana Brandão, peça concebida sobre testemunhos, cartas e memórias de mulheres presas e torturadas pela PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo. Na mesma altura, foi uma das "Mulheres de Abril", no episódio da série "Uma Calma e Lânguida Primavera", dirigido por Henrique Oliveira.
No percurso da atriz, nos palcos, seguiram-se "Uma mulher sem importância", a partir de Oscar Wilde, no Teatro Maria Matos, em 2015, e "Boas pessoas", de David Lindsay-Abaire, no Teatro Aberto, em 2016.
A sua última participação no teatro aconteceu em 2019, quando protagonizou “Sonho de uma noite de verão”, no Tivoli, contracenando com José Raposo, de quem estava já divorciada, e com Miguel Raposo, um dos filhos do casal.
Era também com o ex-marido que contracenava na telenovela “A Serra” e na série “Patrões fora”, ambas atualmente em gravações e em exibição.
"Golpe de Sorte", "Sul", "Paixão", "Amor Maior", "A Casa é Minha", "Mar Salgado", "Os Nossos Dias", "Mundo ao Contrário", "Sentimentos", "Feitiço de Amor", "Jardins Proibidos" e "Morangos com Açúcar" foram outras produções televisivas que contaram com a sua atuação.
Maria João Abreu esteve casada 23 anos com José Raposo, de quem teve dois filhos, Miguel Raposo e Ricardo Raposo. Voltou a casar-se em 2012 com o músico João Soares.
Nascida em Lisboa, a 14 de abril de 1964, Maria João Gonçalves Abreu Soares era oriunda de famílias humildes e começou a trabalhar muito cedo, o que fez dela uma criança muito madura, que não sabia brincar, que tinha pânico de falhar e uma grande necessidade de sentir amor”, como a própria confessou em entrevista.
A atriz contou recordar-se de procurarem “tostões nas gavetas”, para conseguirem comprar um quilo de arroz para o jantar, de a mãe trabalhar muito, e de ela ter feito o seu primeiro arroz de tomate aos oito anos.
Em novembro de 2020, Maria João Abreu perdeu o pai, que morreu em plena pandemia, aos 78 anos, vítima de covid-19.
No dia 30 de abril – cinco meses depois da morte do pai e apenas 16 dias após ter feito 57 anos -, a atriz sentiu-se indisposta durante as gravações da telenovela “A Serra” e desmaiou, tendo sido internada de urgência no Hospital Garcia de Orta, em Almada, com diagnóstico de rotura de aneurisma cerebral.