Segundo as conclusões do estudo, que teve como consultora científica a presidente do Conselho Disciplinar da Ordem dos Médicos, Maria do Céu Machado, 52% dos inquiridos, com mais de 18 anos, avaliam dessa forma o seu estado de saúde, enquanto 31% o consideram “razoável” e apenas 17% dizem ser “pouco saudável”.
Com o título “A Saúde dos Portugueses: Um BI em Nome Próprio”, a investigação pretende ser “um retrato sociológico sobre a saúde em Portugal” e é a primeira de um novo projeto da Médis, que diz ter como objetivo “abrir novas portas e pontos de vista que enriqueçam e alarguem a discussão pública em torno da saúde dos portugueses”.
Partindo de dois indicadores, “a saúde que se tem”, que avalia o atual estado de saúde dos inquiridos, e “potência saúde”, que mede o esforço que fazem para manter ou melhorar o seu estado de saúde, o trabalho concluiu ainda que quase metade dos inquiridos (46%) estão abaixo do nível médio da escala de empenho pessoal na promoção da saúde.
Isso significa, segundo o resumo ao qual a agência Lusa teve acesso, que “parte importante da população considera ter uma atitude pró-saúde aquém do desejável”, ou seja, “integra poucos comportamentos efetivos de defesa ou melhoria do seu estado de saúde e bem-estar”.
Por outro lado, a pesquisa reforça também a tese de que a saúde mental é uma área ainda muito desvalorizada pelos portugueses e que a saúde física é tendencialmente avaliada como pior do que a mental, sendo aquela que as pessoas mais consideram na sua autoavaliação.
Um gráfico da distribuição desta avaliação por estado de saúde mostra o indicador da saúde geral sempre muito próximo do da saúde física, ou mesmo igual nos indivíduos sem doenças diagnosticadas, mas a linha da saúde mental sempre perfeitamente descolada e acima das outras duas.
“Isso não significa que não existam problemas mentais. Significa antes que é a dimensão física e não tanto a mental que determina a avaliação que se faz da saúde e que os problemas mentais são menos reconhecidos ou interferem menos na consideração da saúde que se tem”, frisa o resumo da investigação.
Além disso, na distribuição por idade, verifica-se que, enquanto a avaliação da saúde física e geral caem à medida que a idade avança, o oposto acontece com a saúde mental e são os mais idosos quem melhor a autoavalia.
“É difícil acreditar que a idade dissolva problemas de saúde mental. A excelente pontuação que as pessoas com mais de 65 anos dão à sua saúde mental estará (provavelmente) afetada pelo estigma ou uma visão redutora da saúde mental como demência ou loucura”, conclui-se.
Além disso, apesar de assumir a “forte possibilidade de contaminação da análise” por ter sido realizado durante “o grande pico” da Covid-19, entre outubro e janeiro, o estudo revelou que 69% dos inquiridos consideraram que a pandemia não teve qualquer impacto na sua saúde.
No entanto, entre os inquiridos portadores de doença grave, 30% ‘acusam’ a situação pandémica de prejudicar a sua saúde, sobretudo por dificultar o acompanhamento médico de doenças ou problemas.
A investigação envolveu um estudo quantitativo com uma amostra total de 1.029 indivíduos de ambos os sexos, residentes em Portugal continental e com idade igual ou superior a 18 anos, aos quais foram realizadas 809 entrevistas ‘online’ acrescidas de 220 entrevistas telefónicas.
Foram consideradas quotas cruzadas de género por idade e género por região, em linha com a distribuição nacional, “de modo a assegurar a representatividade da amostra”, refere a ficha técnica, acrescidas de quotas de escolaridade para “evitar as distorções inerentes ao perfil de escolaridade da população internáutica”.
O trabalho considerou ainda um estudo qualitativo de entrevistas aprofundadas por via digital com 18 indivíduos de ambos os sexos, entre os 17 e os 77 anos, pertencentes ao Painel Global da empresa de estudos de mercado IPSOS-APEME.