Em entrevista à agência Lusa, Fernando Rodrigues contou que, relativamente aos doentes não Covid-19, a sensação existente é que não foram ao hospital e que agora que estão a ir, "já têm a sua doença mais desenvolvida, sobretudo, o cancro do pulmão”.
“Temos constatado que existem doentes que por não poderem vir nesta fase ao hospital, a sua doença neoplásica evoluiu para um estadio que praticamente já não é possível fazermos nada”, lamentou o pneumologista.
“E, portanto, esses doentes estão a pagar essa fatura de na altura não poderem recorrer ao hospital”, vincou Fernando Rodrigues.
Agora que a epidemia abrandou, defendeu, “é hora de recuperar os doentes não Covid que nos preocupam, nomeadamente muitos doentes graves da nossa consulta de insuficientes respiratórios”, nomeadamente os que sofrem de doença pulmonar obstrutiva crónica e de outras patologias que “durante este ano praticamente desapareceram” das consultas de pneumologia.
“Nem sabemos muito bem em que situação é que alguns estão porque às vezes convocamo-los e não vêm às consultas e outros não sabemos exatamente como é que estão se não recorrerem ao hospital ou se não forem enviados pelo médico de família”, adiantou.
Segundo o especialista, ainda permanece o receio dos doentes irem ao hospital para uma consulta com medo de contrair a Covid-19.
Contou que nas consultas que fazem por telefone dizem muitas vezes ao doente que seria preferível deslocarem-se ao hospital a uma consulta presencial, mas muitos dizem que “é melhor esperar mais um pouco”.
Relativamente aos doentes Covid-19, o pneumologista disse que o Hospital Fernando da Fonseca “foi pioneiro a nível do país, e mesmo a nível internacional, no tratamento destes doentes com ventilação não invasiva, em que não é preciso introduzir um tubo nasotraqueal”.
“Nós somos o hospital no país que tive a maior experiência em doentes com a infeção SARS-CoV-2 em que conseguimos evitar que fossem para os cuidados intensivos porque utilizamos a ventilação não invasiva”, que é uma máscara adaptada a um aparelho que permite ventilar os doentes que têm insuficiência respiratória.
O hospital já tinha “muita experiência” da utilização deste aparelho nos doentes respiratórios e conseguiu com isso evitar que os cuidados intensivos entrassem em rutura completa.
“Acho que o serviço de pneumologia e todo o hospital estão de parabéns porque fizemos um trabalho notável para seguir estes doentes de uma área populacional muito grande (mais 600 mil habitantes), carenciada, com pessoas que têm baixos recursos económicos e sociais”, disse o especialista.
Para dar resposta aos doentes, houve “uma série de transformações” no hospital, foram reinventados espaços para conseguir alocar os 3.120 pacientes Covid que necessitaram de internamento, 301 em cuidados intensivos, desde o início da pandemia em março de 2020.
Um ano depois da pandemia começam a aparecer doentes com sequelas, tendo o hospital criado uma consulta para doentes “pós-covid” que recebe pacientes de todas as especialidades.
“Temos visto casos menos graves, mas também casos graves em que existem sequelas que são permanentes e que vão ter repercussões futuras na vida do doente, porque ficou com fibrose pulmonar”, contou.
Também já têm alguns casos de doentes que desenvolveram a “pneumonia organizativa” que requer um tratamento para o qual ainda não há ‘guidelines’ seguras, “mas que em princípio passam por tratamento com terapêuticas corticosteroides”.
“Estes doentes têm uma panóplia de sintomas que podem ser sequelas da infeção Covid-19 e, portanto, vamos afinar um protocolo para seguirmos estes doentes” e para que sejam acompanhados em consultas de especialidades, disse o diretor do Serviço de Pneumologia.