Um mês após os incêndios que fustigaram a Madeira, o Governo Regional já realojou, provisoriamente, 93 famílias que perderam a casa, de um total de 233 habitações danificadas pelas chamas, informou hoje a secretária da Inclusão e Assuntos Socais.
"Decorrido um mês, temos cerca de 93 famílias realojadas através do arrendamento social que fizemos no mercado de arrendamento", disse à agência Lusa Rubina Leal, salientando que "não tem sido fácil encontrar uma solução", porque não existem muitas casas disponíveis para arrendar.
A governante revelou que há ainda 60 famílias a residir com familiares, mas sublinhou que todos os realojamentos provisórios serão resolvidos até ao final deste mês.
"Temos 233 habitações afetadas, o que corresponde mais ou menos ao número de famílias. Destas habitações, 174 estão totalmente destruídas e 79 parcialmente destruídas", explicou Rubina Leal, que tutela a secretaria responsável pelo processo de reconstrução, num cenário em que os prejuízos foram avaliados em 157 milhões de euros.
Atualmente, estão a decorrer obras em 36 casas, com verbas disponibilizadas através do Fundo de Socorro Social, cujo plafond inicial era de 163 mil euros, mas que já foi reforçado em 924 mil euros.
A reconstrução das habitações está a ser orientada pela Associação de Desenvolvimento de Santo António (ASA), mas Rubina Leal disse que o governo vai construir 30 fogos de raiz, no Bairro Social de São Gonçalo, bem como proceder à recuperação de um espaço devoluto.
"Sabemos que para resolvermos o problema da habitação temos que reconstruir as habitações que foram totalmente danificadas, temos que adquirir novos fogos, porque o mercado de arrendamento não responde a todas as necessidades, e vamos requalificar fogos que estão devolutos", explicou.
Dos 157 milhões de euros de prejuízo, o executivo regional calcula que serão necessários 17 milhões para a requalificação urbanística e cerca de 50 milhões para a recuperação de infraestruturas e equipamentos públicos, incluindo a limpeza das escarpas e taludes sobranceiros às estradas.
Os incêndios que deflagraram no dia 08 de agosto no concelho do Funchal (e que demoraram quase uma semana) motivaram, no dia seguinte, a ativação do Plano de Contingência Regional, na medida em que assumiram uma dimensão catastrófica, descendo das zonas altas para o centro da cidade, numa semana em que a temperatura do ar atingiu os 38 graus, a humidade relativa baixou significativamente e foram registadas rajadas de vento acima dos 80 quilómetros/hora.
"Um fogo que teve origem na Alegria, era impensável que chegasse até à zona urbana", disse à agência Lusa Raquel Brazão, responsável pelo Gabinete de Apoio a Recuperação do Funchal, um organismo criado pela Câmara Municipal para gerir o processo.
As chamas atingiram o núcleo histórico de São Pedro, em plena cidade, uma das áreas onde o gabinete interveio de imediato, com ajuda de uma equipa técnica vinda do Porto.
Atualmente, o apoio da autarquia foca-se na elaboração dos projetos de arquitetura e dos projetos de especialidade, na medida em que o processo de reconstrução está a ser conduzido pelo Governo Regional.
"O plano de ação imediato está muito focado na recuperação das moradias, todo o processo de licenciamento será agilizado e todo ele facilitado, no sentido de acelerar, e depois as pessoas irão candidatar-se aos apoios financeiros através de uma linha de financiamento do governo", explicou Raquel Brazão, lembrando que 22% da área do concelho do Funchal foi afetada pelos incêndios.
Para além dos avultados danos materiais, os incêndios de agosto fizeram três mortos, na zona do Alto da Pena, já em plena cidade, e, por outro lado, dois homens foram detidos e aguardam julgamento em prisão preventiva por suspeita de fogo posto.
O Funchal foi o município mais afetado, mas também há danos a assinalar nos concelhos da Calheta, Ponta do Sol e Santa Cruz, sobretudo ao nível florestal.
"Continuamos a fazer os levantamentos em termos sociais, casa a casa, família a família e tentamos responder e colaborar com a Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Socais", explicou a vereadora Madalena Nunes, da Câmara do Funchal, sublinhando que "dentro de toda a desgraça, esta é uma altura ideal para poder planificar o futuro, de forma que a nossa cidade possa reviver".
A autarca defende, no entanto, que as soluções "não podem ser radicais".
C/Lusa