Novas variantes já foram observadas desde que o novo coronavírus SARS-CoV-2 foi detetado pela primeira vez em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, mas a estirpe mais recente levou hoje vários países europeus a suspenderem voos e transportes marítimos oriundos do Reino Unido.
– Como surgiu a nova variante do coronavírus?
Durante o seu processo evolutivo, os vírus costumam adquirir pequenas alterações no código genético. Uma estirpe levemente modificada pode tornar-se mais comum num país ou região apenas por se ter instalado ali primeiro.
Eventos propícios à propagação do vírus em larga escala também ajudam a multiplicar a nova estirpe, assente em quase duas dúzias de mutações da proteína da espícula, que o vírus usa para se ligar e infetar as células humanas.
Numa resposta escrita enviada à Lusa, a Direção-Geral da Saúde disse que, de modo geral, “os vírus mudam constantemente por meio de mutações e o surgimento de uma nova variante é uma ocorrência esperada e não é motivo de preocupação por si só”.
No Reino Unido, as autoridades notificaram a Organização Mundial da Saúde sobre uma nova estirpe em circulação desde setembro, que poderia estar associada à aceleração do número de infeções em Londres e em vários condados das regiões sudeste e leste.
– Que outras novas variantes do coronavírus foram identificadas?
Em abril, investigadores na Suécia encontraram um vírus com duas alterações genéticas, que pareciam torná-lo cerca de duas vezes mais infeccioso, tendo sido identificados à volta de seis mil casos de infeção pelo mundo, sobretudo na Dinamarca e na Inglaterra.
Diversas variações dessa estirpe surgiram nas últimas semanas, com a Dinamarca a relatar contaminações em quintas de criação de visons e uma equipa de investigadores sul-africanos a detetar uma nova variante com incidência em pacientes mais jovens.
De acordo com a informação científica disponível, que ainda é insuficiente para aferir o impacto na mortalidade por covid-19, especialistas em saúde têm concordado sobre um maior grau de infecciosidade da estirpe de coronavírus observada no Reino Unido face a outras.
“A maioria das mutações não aumenta o risco para o ser humano. No entanto, algumas mutações ou combinações de mutações podem fornecer ao vírus uma vantagem seletiva, como o aumento da transmissibilidade ou como uma maior capacidade de evadir à resposta imune do hospedeiro”, referiu a DGS, na resposta enviada à agência Lusa.
– A nova estirpe pode reinfetar pessoas ou diminuir a eficácia das vacinas?
A generalidade dos investigadores considera existir uma baixa possibilidade de que novas variantes sejam resistentes às vacinas, lembrando que estas produzem respostas direcionadas para todo o sistema imunitário e para a própria proteína da espícula.
Alguns países já começaram a administrar às populações doses das vacinas desenvolvidas pelas empresas norte-americanas Moderna e Pfizer, ambas suscetíveis de sofrer futuros ajustes, conforme evoluam as mutações do coronavírus.
“As vacinas demonstraram ser capazes de induzir a produção de anticorpos protetores nos seres humanos contra várias regiões da espícula do vírus, pelo que, com base na opinião dos peritos do Reino Unido, não existem dados que sugiram a perda de eficácia das vacinas nesta nova variante”, esclareceu à Lusa a Direção-Geral da Saúde.