Naquele período registaram-se, segundo os peritos da Escola da Universidade Nova de Lisboa, em documento enviado à Lusa, “442 óbitos por covid-19, menos 25% do previsto no mesmo período, sem as medidas de contenção e mitigação”.
A descida é ainda mais significativa no caso dos doentes em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI): “Menos 53% do que seria de esperar”.
E os 1158 internados em hospitais representaram “menos 12% do que previsto”, referem.
Os casos notificados durante o mesmo período ficaram 23% abaixo dos quase 25 mil esperados, sem medidas de contenção e mitigação, acrescentam.
Os resultados observados “sugerem que as medidas de confinamento e isolamento social foram e estão a ser efetivas na redução da mortalidade e dos casos graves de covid-29”, observam os especialistas da Escola Nacional de Saúde Pública.
“Portugal atuou cedo”, voltaram a constatar, sublinhando que a população “aderiu de forma rápida e efetiva às medidas de contenção e mitigação decretadas pelo Governo, reduzindo a sua mobilidade efetiva para uma grande parte das atividades da vida diária, incluindo retalho e lazer (-83%), parques e afins (-80%) e transportes (-79%)”. O que não aconteceu em Itália nem no Reino Unido, comparam.
“Sugerimos que as medidas de contenção e mitigação adotadas pelas autoridades estarão a ser efetivas na redução da mortalidade e dos casos graves de covid-19, aqueles que requerem de internamento em UCI e mesmo no número de novos casos”, conclui-se no documento.
Os especialistas consideram que é agora “altura de discutir as estratégias para a recuperação faseada da vida económica e social”, mas protegendo do contágio “as pessoas com maior risco de terem doença grave e até morrer, nomeadamente as que têm mais de 70 anos ou têm comorbilidades debilitantes”.
Além disso, “o sistema de vigilância epidemiológica tem de ser capaz de detetar precocemente um aumento de número de casos acima do nível esperado em cada semana, em cada município, ou mesmo por freguesia no caso de grandes municípios”, aconselham.
“É também necessário iniciar o programa de testes serológicos, começando em populações específicas e alargando progressivamente a amostras representativas de diferentes populações, para seguir o estado imunitário da população”, sustentam.
Na opinião da Escola Nacional de Saúde Pública, deve ser mantida “ativa uma reserva estratégica de pessoal e equipamentos” capaz de responder a um novo surto.
Os especialistas alertam que o impacto da alteração do estado de emergência para o estado de calamidade só poderá ser observável "depois de terem passado mais do que 15 dias", mas adiantam que é possível "retirar algumas conclusões do aligeiramento das medidas efetuado noutros países", nomeadamente na República Checa, Áustria e Dinamarca.
Portugal contabiliza 1.074 mortos associados à covid-19, em 25.702 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Relativamente ao dia anterior, há mais 11 mortos (+1%) e mais 178 casos de infeção (+0,7%).
Das pessoas infetadas, 818 estão hospitalizadas, das quais 134 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.712 para 1.743.
Em relação à taxa de mortalidade, o Norte continua a ser a região com a taxa mais elevada, seguido de Lisboa e Vale do Tejo, refere a Escola Nacional de Saúde Pública. "Vários concelhos do Norte continuam a ser identificados como sendo áreas críticas: Porto, Santo Tirso, Paços de Ferreira, Felgueiras, Vila Nova de Famalicão, Vila do Conde, entre outros concelhos vizinhos", especifica.
Portugal entrou no domingo em situação de calamidade, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência (desde 19 de março).
Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 251 mil mortos e infetou quase 3,6 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
C/Lusa