"O meu Governo está a trabalhar com os nossos parceiros internacionais para mudar este cenário (crise) e criar as condições para levar a cabo o processo de transição pelo qual a grande maioria dos venezuelanos protestam diariamente. A Europa tem um papel fundamental a desempenhar nesta estratégia", explica Juan Guiado na carta enviada a Federica Mogherini e aos chefes de diplomacia dos Estados-membro da União Europeia.
Esse papel, acrescenta, passa por assegurar que a ajuda humanitária chegue às pessoas mais necessitadas no terreno, aumentar a pressão e criar o ambiente propício para um processo político credível, inclusive através de novas sanções conjuntas e unilateralmente por cada país membro e usar canais de comunicação com a Rússia e Cuba para que deixem de apoiar o regime.
Segundo Juan Guaidó, o papel da Europa passa ainda por coordenar ações com a Organização de Estados Americanos e o Grupo de Lima, um maior reconhecimento sobre a legitimidade do Governo interino, intensificar esforços para garantir justiça, investigando e processando todas as violações de direitos humanos.
O líder do Parlamento venezuelano e autoproclamado Presidente interino pede ainda à União Europeia e seus Estados-membros que se envolvam em planos de estabilização e reconstrução do país.
A carta explica que "os venezuelanos estão profundamente gratos pelo apoio contínuo da Europa, em particular, pela liderança demonstrada em resposta à crise humanitária e pelos esforços através do Grupo de Contacto Internacional".
Segundo Juan Guaidó, as declarações da UE dão visibilidade à situação trágica na Venezuela, em particular "a emergência humanitária complexa, à perseguição contra os deputados da Assembleia Nacional e outros líderes e membros de partidos políticos da oposição, aos atos de violência contra jornalistas, à existência de grupos armados irregulares e à violência contra os manifestantes pacíficos que querem a restauração da democracia no país".
"O meu Governo interino acolhe com satisfação o firme apoio da Europa ao reconhecer a legitimidade do meu cargo e os nossos esforços para alcançar um verdadeiro processo de transição política", afirma.
No entanto, Guaidó lamenta “profundamente que, apesar desse apoio, milhões de venezuelanos continuem a enfrentar um sofrimento sem precedentes, incluindo a ameaça de fome, doenças e violência constantemente".
"Além disso, enquanto escrevo esta carta, deputados eleitos da legítima Assembleia Nacional [Parlamento] da Venezuela, políticos e ativistas em todo o país enfrentam a violência e a perseguição indiscriminada do regime usurpador de (Nicolás) Maduro e dos seus grupos armados à margem da lei e o regime levantou a imunidade parlamentar de sete deputados, dos quais um já foi preso, e continua o desaparecimento forçado do deputado Gilber Caro", denuncia.
"Apesar dos nossos esforços e compromissos com um processo de transição democráticas, e novas eleições livres e justas, está claro que Maduro continua obcecado com uma política de tirania e violência e sente-se respaldado no apoio que está recebendo de seus patrocinadores", diz Guaidó, referindo ainda que o vice-presidente do Parlamento, Edgar Zambrano, "foi sequestrado pelos serviços secretos" naquele que é "o mais recente ato de Maduro para atacar um processo constitucional legítimo".
Segundo Juan Guaidó "estes atos não correspondem aos de um negociador de boa fé, pelo contrário, são prova de quão estéril seria uma negociação com o regime".
"Realizar eleições, neste momento, com Maduro usurpando o controlo do aparelho governamental e outras instituições do Estado como o Supremo Tribunal de Justiça e o Conselho Nacional Eleitoral, teria inevitavelmente, como resultado, que o processo, novamente, possa não ser nem livre, nem justo, nem transparente", alerta.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó, jurou assumir as funções de presidente interino e prometeu formar um Governo de transição e organizar eleições livres.
Guaidó, de 35 anos, contou de imediato com o apoio de mais de 50 países, incluindo os EUA e a maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, que o reconheceram como presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
Na madrugada de 30 de abril, um grupo de militares manifestou apoio a Juan Guaidó, que pediu à população para sair à rua e exigir uma mudança de regime, mas não houve desenvolvimentos na situação até ao momento.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou as iniciativas do presidente do Parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
À crise política na Venezuela soma-se uma grave crise económica e social, que já levou mais de 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, de acordo com dados das Nações Unidas.
LUSA