Falando em Caracas, o Presidente venezuelano anunciou que a petrolífera estatal está a tomar ações para impedir a concretização dessas sanções, anunciadas pela Casa Branca na segunda-feira e que Maduro considerou como um ato ilegal.
"Os EUA hoje decidiram tomar o caminho de querer roubar a empresa CITGO [petrolífera subsidiária da PDVSA nos Estados Unidos] à Venezuela e é um caminho ilegal", disse.
Nicolás Maduro falava durante um encontro no palácio presidencial de Miraflores, com diplomatas que regressaram de diferentes sedes consulares e da embaixada venezuelana nos EUA.
"Já dei instruções ao presidente da PDVSA e à CITGO para que iniciem as ações legais para defender a propriedade e as riquezas [da Venezuela]", disse.
A administração norte-americana anunciou na segunda-feira que vai impor sanções à companhia petrolífera, o que aumenta a pressão sobre Nicolás Maduro.
O conselheiro de segurança nacional John Bolton e o secretário do Tesouro Steven Mnuchin anunciaram medidas contra a companhia, que impede os norte-americanos de fazerem negócios com a empresa estatal e congela todos os seus bens nos Estados Unidos.
Segundo Nicolás Maduro, as sanções anunciadas, que afetam sobretudo à subsidiária norte-americana Citgo, "demonstram que o objetivo dos Estados Unidos é tirar as propriedades à Venezuela, o dinheiro e o território".
"Qual é o objetivo? Tirar as riquezas e o dinheiro à Venezuela, depois aspiram tirar-nos o território (…) Os venezuelanos, não vamos permitir isso", frisou.
Maduro sublinhou ainda que essas medidas são feitas "a pedido e amparadas pelo deputado anticonstitucionalmente autoproclamado chefe de Estado da Venezuela, Juan Guaidó".
Por outro lado, explicou que os diplomatas venezuelanos que se encontravam no palácio presidencial foram chamados pelo Departamento de Estado norte-americano "para suborná-los" e para que declarassem contra a sua pátria, mas que "regressaram com dignidade, com honestidade e amor".
Assegurou que estes diplomatas vão ser designados para outras missões.
O autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, anunciou na segunda-feira, praticamente em simultâneo com a divulgação das sanções norte-americanas, que assume o controlo dos ativos do país no exterior, de modo a evitar que o Presidente Nicolás Maduro “continue a roubar” o dinheiro dos venezuelanos.
“A partir deste momento iniciamos a tomada do controlo progressivo e ordenado dos ativos da nossa República no exterior, para impedir que no seu percurso de saída, e não conformado com o que já roubou à Venezuela, o usurpador e o seu grupo continuem a roubar o dinheiro dos venezuelanos, financiando delitos a nível internacional e usando o dinheiro para torturar o povo, privando-o de alimentos e medicamentos e assassinando quem protesta pelos seus direitos”, refere Juan Guaidó, num comunicado divulgado na rede social Twitter.
O autoproclamado Presidente acrescentou que já denunciou “junto da comunidade internacional a corrupção na PDVSA", salientando que esta foi convertida numa “rede de financiamento de crimes”.
Juan Guaidó disse ainda que vai iniciar um processo para nomear uma nova administração para a PDVSA e para a sua filial CITGO, que opera nos Estados Unidos.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A União Europeia fez um ultimato a Maduro para convocar eleições nos próximos dias, prazo que Espanha, Portugal, França, Alemanha e Reino Unido indicaram ser de oito dias, findo o qual os 28 reconhecem a autoridade de Juan Guaidó e da Assembleia Nacional para liderar o processo eleitoral.
A repressão dos protestos antigovernamentais da última semana provocou 35 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
C/LUSA