"Existem aqui alguns pontos de interrogação por parte dos operadores turísticos do Reino Unido com a incerteza e as consequências do Brexit. Isso pode gerar algum adiamento das reservas por parte dos britânicos enquanto não souberem a situação, o que vai acontecer e o impacto que pode ter na desvalorização da libra", disse hoje Ana Mendes Godinho à agência Lusa, em Londres.
O resultado é um "compasso de espera", que poderá remeter as reservas que normalmente começam em dezembro para o próximo ano, quando estiverem mais claras as condições do processo de saída.
"Claramente, janeiro e fevereiro vão ser meses fortes aqui no Reino Unido em termos de procura, vão ser meses em que vamos investir bastante em termos de promoção digital. Talvez março, abril sejam meses fortes" de reservas, adiantou.
Esta análise foi transmitida durante uma visita à feira de turismo World Travel Market, que decorre na capital britânica, que Ana Mendes Godinho visitou hoje e onde se encontrou com representantes da Associação das Agências de Viagens Britânica (ABTA) e da Associação de Agências de Turismo Independentes do Reino Unido (AITO).
"É importante para nós [sabermos] para gerirmos os momentos de comunicação mais importantes e estarmos a atingir o mercado com as mensagens nos momentos que nos interessa mais em termos de reservas", referiu, a propósito das campanhas de promoção feitas em parceria com operadores e na Internet.
"A nossa preocupação aqui é manter a fidelização do mercado do Reino Unido a Portugal. Até agosto sentimos uma quebra [de 6%] no número de hóspedes na hotelaria, mas o crescimento nas receitas foi de 10%", vincou.
O turismo é uma das áreas com maior risco de impacto negativo devido à saída do Reino Unido da UE, segundo o estudo "Brexit – As consequências para a economia e as empresas portuguesas", promovido pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal divulgado na semana passada.
O estudo refere que, em 2016, passaram por Portugal cerca de dois milhões de hóspedes britânicos, representando 21% do total, e 28% das dormidas em estabelecimentos hoteleiros.
O agravamento da desvalorização da libra face ao euro, que já perdeu cerca de 14% entre o referendo e o início de setembro deste ano, após o Brexit é a principal causa de preocupação, pois poderá desencorajar os britânicos a viajarem para países que usam a moeda única, como Portugal.
"A quebra do poder de compra dos ingleses é, por isso, uma ameaça, dado o impacto na dinâmica turística nacional que tem beneficiado a economia portuguesa e que tem contribuído para que o turismo tenha vindo a assumir uma importância crescente, representando, em 2016, 7,1% do VAB [Valor Acrescentado Bruto] total, com uma taxa de variação face ao ano anterior de 9,9%", refere o estudo.
No grupo de Serviços, a categoria "Viagens e Turismo" realizou exportações para o Reino Unido de 2.267 milhões de euros em 2016, representando uma quota de mercado de 57,3% e um peso de 22,6% nas exportações totais dentro da UE.
O Reino Unido vai deixar a UE em março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos após o referendo de 23 de junho de 2016 que viu 52% dos britânicos votarem a favor do Brexit.
A WTM London é uma das maiores feiras mundiais de turismo e atrai anualmente cerca de 51 mil visitantes, tendo a organização estimado que promove um milhão de encontros e reuniões que resultaram em contratos no valor de três mil milhões de libras (3,41 mil milhões de euros).
Este ano, o espaço de Portugal tem representadas 91 empresas representativas das sete regiões nacionais (Porto e Norte, Centro de Portugal, Lisboa, Alentejo, Algarve, Açores, Madeira), além das respetivas agências regionais de promoção Externa, mais ‘startups’ e a TAP Air Portugal.
C/ LUSA