Os venezuelanos queixam-se de que os bens e serviços subiram de preço, nalguns casos o dobro, que as empresas estão a encerrar as portas e que o anunciado aumento do salário ainda não foi oficializado.
"Estamos desconfiados, incrédulos, porque já tudo subiu de preço, nalguns casos até custa o dobro e muitos não ganham suficiente para comprar verduras e outros alimentos essenciais", disse Leonilda Carmen Sanchez à agência Lusa.
Nascida em Sucre (leste de Caracas), esta doméstica venezuelana, visita com frequência os mercados ambulantes que na sua zona funcionam perto de casa, às sextas-feiras e sábados, para tentar conseguir verduras a preços mais baratos porque chegam direto dos agricultores, mas mesmo aí, diz, estão sempre a subir de preço.
"As cebolas estão a 70 bolívares soberanos (0,98 euros à taxa de câmbio oficial), e estavam a 40 Bs.S (0,56 euros). Há duas semanas um cartão de ovos custava 80 Bs.S (1,12 euros), hoje está a 160 Bs.S (2,24 euros), um quilograma de costelas de porco defumadas custavam à volta de 100 Bs.S (1,40 euros) e agora estão em 250 Bs.S (3,50 euros)", lamentou.
Além disso, acrescentou, "até as bolsas CLAP (cabaz de alimentos a preços subsidiados) que são distribuídas pelo Governo, a cada três semanas, aumentaram dez vezes e não dão para uma semana".
"O Governo anunciou que o salário mínimo (mensal) passaria de 52 Bs.S (0,72 euros) para 1.800 Bs.S (25,20 euros), a partir de 01 de setembro, mas ainda não foi publicado na Gazeta Oficial (equivalente ao Diário da República), portanto não é oficial e dizem que não será esse o valor", frisou.
À porta de uma padaria em La Campiña, Carlos Villamizar, 65 anos, fazia contas ao preço do pão e da charcutaria.
"O pão passou de 8,oo Bs.S para 20 Bs.S em duas semanas, o queijo e o fiambre duplicaram de preço. Agora tudo está mais difícil, está mais caro. Não se pode comprar", queixou-se.
Segundo Marcos Sandoval, 24 anos, estudante de comunicação social, "a reconversão monetária e as medidas económicas" anunciadas pelo Presidente Nicolás Maduro estão a ter "um efeito desastroso na economia venezuelana e na qualidade de vida das pessoas mais pobres".
"Tudo subiu de preço, nalguns casos, como o transporte público, de maneira escandalosa. O bilhete mínimo custava Bs.S 0,01 e subiu para 1,00 Bs.S, e ainda não aumentou o preço da gasolina que o Governo quer pôr a preços internacionais", recordou.
A dois semestres de completar o curso, Marcos pretendia aproveitar as férias para frequentar algumas matérias para terminar antes ou aligeirar os estudos mas "a universidade suspendeu ‘o verão’ por falta de professores, porque até eles estão a emigrar" principalmente depois da crise.
Para Francisco Moncada, 35 anos, empresário de construção civil por conta própria, a "situação está cada vez pior” porque, explica, “tudo está muito mais caro e as empresas estão a fechar".
"As obras estão paradas porque as pessoas não têm dinheiro para pagar. Tinha dois projetos para pintar e expandir uma quinta que as pessoas desistiram por falta de recursos. Tenho duas crianças e preciso comprar-lhes os materiais escolares, porque em outubro começam as aulas e não tenho dinheiro suficiente. Um par de sapatos dos mais baratos estão em 700 Bs.S", explicou.
Quanto à mais recente medida anunciada pelo regime, a disponibilidade do Governo venezuelano em vender lingotes de ouro para captar poupanças, Francisco Moncada não acredita.
“As pessoas não têm dinheiro suficiente. Têm que fazer das tripas coração para conseguir manter os filhos. Não têm recursos para comprar ouro. Os reformados, com o que recebem, tampouco. Como podem comprar ouro?", questionou.
No passado dia 20 de agosto último entrou em vigor, na Venezuela uma reconversão monetária que eliminou cinco zeros ao bolívar forte e deu origem ao bolívar soberano.
A reconversão faz parte de um pacote de medidas económicas que incluiu o aumento do IVA de 12% para 16%, mas isentando os alimentos e medicamentos.
O novo plano económico anunciado por Nicolás Maduro prevê ainda o aumento do salário mínimo em 35 vezes, a internacionalização dos preços dos combustíveis e a criação de um imposto para as grandes transações financeiras.
LUSA