Durante o encontro marcado por um tom frio e sem grandes acordos, realizado para assinalar o 50.º aniversário do estabelecimento de laços bilaterais, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reiterou ao Presidente chinês, Xi Jinping, o mal-estar de Bruxelas relativamente a questões como as barreiras de acesso ao mercado chinês, a utilização das terras raras como instrumento de pressão e as práticas industriais de Pequim, que considera “injustas”.
“Há muito que podemos fazer em conjunto, mas tem de haver soluções pragmáticas”, disse Von der Leyen numa conferência de imprensa no final da cimeira, onde esteve acompanhada pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa.
Embora a UE continue disposta a participar neste “diálogo construtivo”, as diferenças pesam e, segundo a líder do executivo comunitário, foi atingido “um ponto de viragem” em que a Europa vai “adotar medidas proporcionais e legalmente conformes para proteger os seus interesses legítimos”.
Von der Leyen defendeu que a China deve abrir o seu mercado em setores prioritários como a carne, os cosméticos e os produtos farmacêuticos de forma “recíproca”.
A Comissão Europeia instou Pequim a pôr termo às medidas de defesa comercial “injustificadas”, bem como às “medidas de retaliação contra as exportações de ‘brandy’, carne de porco e produtos lácteos da UE”.
A China tomou estas medidas em resposta à imposição de tarifas sobre os veículos elétricos fabricados na China, uma questão que nenhuma das partes mencionou hoje, mas sobre a qual existe um pacto para retomar as negociações com vista a um acordo de preço mínimo.
Já António Costa referiu que transmitiu aos responsáveis chineses as “profundas preocupações” dos 27 da UE sobre o respeito dos direitos humanos relativamente às situações no Tibete, Hong Kong e na província de Xinjiang (noroeste da China).
“A proteção dos direitos humanos é um pilar central das relações da UE com outros países, incluindo a China (…). Hoje reiterámos as nossas preocupações e continuaremos a empenhar-nos nesta importante questão”, afirmou Costa.
Von der Leyen apelou também a “soluções concretas” para questões como os controlos chineses sobre as terras raras, fundamentais para os setores da defesa, energia e automóvel.
Von der Leyen disse que Bruxelas precisa de “um fornecimento fiável” da China, que controla a produção mundial, e espera que Pequim acelere o fornecimento destes materiais ao bloco.
Em relação à guerra na Ucrânia, a política alemã disse que a China “tem influência” sobre a Rússia e que espera que esta faça mais para conseguir “um cessar-fogo e negociações”.
“Isto tem um impacto na segurança da Europa. A forma como a China continua a interagir com a guerra será um fator determinante para as nossas relações no futuro”, afirmou.
Pequim sempre contestou as críticas europeias à China pela sua conivência com a Rússia após a invasão da Ucrânia, negou igualmente ter fornecido “armamento letal” a Moscovo e insiste que nunca instigou o conflito, iniciado em fevereiro de 2022.
Recentemente, o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, revelou que o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, disse à chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, que Pequim não pode aceitar que a Rússia perca a guerra, uma vez que isso permitiria aos Estados Unidos concentrar toda a sua atenção na China.
Xi Jinping, por seu lado, limitou-se a sublinhar na reunião de hoje que os laços devem proporcionar “maior estabilidade e certeza global” face a uma “situação internacional complexa e em mudança” e a defender que ambas as partes “se respeitem mutuamente e procurem um terreno comum”, de acordo com os comunicados oficiais.
O líder chinês espera que a China e a UE, que descreveu como “forças construtivas do multilateralismo e da abertura”, “reforcem a comunicação e criem confiança”.
As duas partes acordaram igualmente em “liderar os esforços globais” para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e assinar uma declaração conjunta sobre as alterações climáticas, o único acordo celebrado na cimeira.
A UE sublinhou que a sua contribuição para as emissões globais diminuiu para 6% e reafirmou o seu objetivo de a reduzir para 4% até 2030, embora tenha instado a China a apresentar um plano mais ambicioso de redução das emissões até 2035 e a aumentar as suas contribuições financeiras internacionais, de acordo com o seu peso económico.
Lusa