O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, sublinhou hoje que o Governo, a embaixada de Portugal em Caracas, os consulados e o delegado da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) acompanham "com preocupação estas diligências e até alguma diligência que, inclusivamente, coloca em causa a própria segurança dos investidores portugueses na Venezuela".
"Acompanhamos com preocupação os desenvolvimentos que têm sido postos em prática por parte das autoridades venezuelanas, que sempre nos manifestaram um apreço muito grande pelos empresários e comerciantes e pelo modo como os portugueses contribuíram para a vida deste país", referiu, acrescentando que a situação está a ser acompanhada "em detalhe, ao pormenor".
Depois de um comunicado da Superintendência para a Defesa dos Direitos Socioeconómicos (Sundde) a revelar denúncias telefónicas sobre irregularidades que motivaram fiscalização às redes dos supermercados portugueses, José Luís Carneiro referiu que estão a ser contactadas dezenas de estabelecimentos de portugueses na Venezuela.
A ação do Governo português, que tem já conhecimento de que os supermercados de portugueses baixaram os preços para os valores de venda ao público que se registavam em abril, tem como objetivo "verificar-se como pode afetar" a reconversão monetária na Venezuela, que eliminou cinco zeros ao bolívar forte, que substituiu pelo bolívar soberano.
O membro do Governo assinalou que "os empresários portugueses estão numa fase de adaptação, numa fase de ajustamento das suas estruturas económicas, empresariais e comerciais" no âmbito das "importantes reformas em curso do ponto de vista económico e monetário" na Venezuela.
"Os empresários portugueses estão também numa fase de adaptação a estas alterações que foram determinadas pelo Governo [da Venezuela] e que fazem par de um conjunto de medidas económicas, que desejamos venham a contribuir para que a Venezuela consiga sair deste clima de crise económica e social", disse.
Referindo que "os portugueses na Venezuela constituem uma parte muito relevante da vida comercial, económica e empresarial do país", o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas vincou que a reforma num país com uma comunidade grande de portugueses "exige também tempo para que as instituições se adaptem e para que as empresas sejam capazes de se ajustar a estas circunstâncias".
José Luís Carneiro manifestou o desejo de que Venezuela tenha "em consideração essa mesma relação histórica, económica, comercial e cultural" dos portugueses na Venezuela.
"É isso que desejamos que aconteça nas semanas que agora seguem a estas mudanças de grande significado na estrutura monetária, económica e comercial da Venezuela, que, naturalmente, são medidas adotadas com o objetivo de dar um impulso à economia do país, mas que, naturalmente, esse impulso à economia do país deve respeitar aqueles que são os direitos fundamentais daqueles que fizeram da Venezuela o seu país de investimento de vida", concluiu o governante.
As denúncias telefónicas sobre irregularidades reportaram-se às redes de supermercados Luvebras, Excelsior Gama e Central Madeirense, suspeitas de terem incorrido em "especulação, modificação de preços, oferta enganadora, entre outros delitos socioeconómicos".
Na quarta-feira, o Governo venezuelano fixou os preços de venda ao público de 25 produtos básicos alimentares, incluindo produtos que escasseiam no país e que passariam a ter um custo ligeiramente inferior àqueles praticados no mercado negro.
Entretanto estes produtos já subiram de preço no mercado paralelo ou informal.
Em seis dias, a moeda venezuelana perdeu 24,51 vezes o seu valor, segundo dados do Banco Central da Venezuela.
A 17 de agosto, um euro valia 2,85 bolívares soberanos (Bs.S), mas hoje vale 69,87 Bs.S à taxa oficial de câmbio Dicom.
Por outro lado, no mercado paralelo, no mesmo período de tempo, o euro passou de 68,68 Bs.S, para 109,82 Bs.S.
LUSA