Maria de Lurdes Almeida, membro do Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) na Venezuela, referiu que a comunidade portuguesa "não espera que mude algo" e frisou a "grande incerteza" quanto aos próximos anos, num país mergulhado numa grave crise económica e social.
A conselheira, que viajou para Lisboa para participar no Conselho Permanente do CCP, que terminou esta quarta-feira, expressou "o sentimento de medo, apreensão e incerteza no futuro" que se sente na comunidade portuguesa na Venezuela.
"Chamou-se eleições, mas grande parte de nós sabe que foi o nome que quiseram pôr. Por isso, esperamos muitos poucos resultados, porque não consideramos que realmente sejam umas eleições transparentes, como deviam ser”, disse, referindo-se ao sufrágio boicotado pela maioria das forças da oposição ao Presidente Nicólas Maduro.
A comunidade portuguesa espera "há 18 anos que alguma coisa mude e o país continua cada vez pior", referiu a conselheira.
"Atualmente, o que temos é uma grande incerteza, grande parte dos portugueses são comerciantes e todos perguntam o que vão fazer no futuro, o que vai ser este resultado. Não sabem se voltam a Portugal ou não", assinalou.
Ainda em referência aos comerciantes, Maria de Lurdes Almeida frisou que as interrogações são muito grandes, pois não sabem "se podem ter acesso a mercadorias" após o escrutínio.
Independentemente do ato eleitoral de domingo, o facto é que "muita gente está a sair" da Venezuela, uma migração que a conselheira do CCP diz que não se resume à comunidade portuguesa.
"Muita gente está a sair de lá, não somente da nossa comunidade, mas de todas as comunidades, inclusive a venezuelana, que nunca emigrou e que está a emigrar massivamente, precisamente por esta incerteza que os portugueses sentem" como todos os outros, disse.
A crise económica e social – obrigou já centenas de milhares de pessoas a abandonarem a Venezuela. Muitos viajaram para o Brasil, entre eles portugueses.
"São mais de mil os portugueses que abandonaram a Venezuela", afirmou Maria de Lurdes Almeida, destacando que "os jovens, principalmente, querem sair", porque "não veem muito futuro".
A conselheira disse que "as filas às portas do Consulado" para "tramitar a documentação" são enormes, o que "antes não acontecia".
Cinco após a morte de Hugo Chávez, a Venezuela continua a sofrer convulsões económicas e sociais que o seu sucessor, o Presidente Nicólas Maduro, não conseguiu estancar.
Maduro é candidato a segundo mandato, para permanecer na Presidência da Venezuela até 2025. Tem como principal opositor Henri Falcón, um dissidente do "chavismo".
O principal partido da oposição, a Unidade Democrática, não apresenta candidato, por considerar o ato eleitoral ilegítimo.
Em fevereiro, um estudo da Hercon Consultores indicava que a economia venezuelana se agravou desde 2014, com 89,5 dos venezuelanos a não conseguirem rendimentos suficientes para assegurar as necessidades básicas e a inflação a fixar-se acima dos 800% por ano.
C/ LUSA