Em resposta a perguntas dos jornalistas, no fim da 29.ª Cimeira Ibero-Americana, em Cuenca, no Equador, Marcelo Rebelo de Sousa declarou ter recebido a notícia da morte de Celeste Caeiro “com muita tristeza”.
“Eu estive com ela, depois combinámos uma ida a Belém para a condecoração, ela não pôde, uma ou duas vezes, caiu doente. E será certamente condecorada a título póstumo. Mas ela soube disso, ficou muito feliz com a notícia, infelizmente não pode receber as insígnias em vida”, acrescentou o chefe de Estado.
Celeste Caeiro morreu hoje, aos 92 anos, no Hospital de Leiria, disse à agência Lusa a neta, Carolina Caeiro Fontela, lamentando que a sua avó nunca tenha sido homenageada em vida.
Em abril do ano passado, por ocasião das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, ambas, residentes em Alcobaça, no distrito de Leiria, esclareceram a história de como os cravos entraram na revolução.
“Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, afirmou a neta à agência Lusa, referindo que Celeste trabalhava num ‘self-service’ no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa.
Com a mãe e uma filha de cinco anos a seu cargo, e a viver numa “casa humilde, sem rádio e sem televisão”, só quando chegou ao trabalho, no dia 25 de Abril de 1974, é que Celeste soube que estava a haver uma revolução.
Nesse dia, o ‘self-service’, que completava um ano, não iria abrir portas, e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”.
Celeste pegou no seu ramo de cravos – “vermelhos e brancos” – e rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”.
Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.
O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro”, e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por se tornar o símbolo da revolução.
A história de Celeste Caeiro, entrelaçada com aspetos políticos e sociais da época, foi contada num documentário da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, com argumento original de Vilma Reis e Roberto Faustino e produção de Tino Navarro e MGN Filmes Lisboa.
Na sessão solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o deputado do Livre e historiador Rui Tavares sugeriu que Celeste fosse homenageada com uma estátua no parlamento.
Por proposta do PCP, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou por unanimidade, no dia 07 de maio, homenagear-se Celeste Caeiro com a atribuição da medalha de honra da cidade de Lisboa e a realização de uma “intervenção evocativa, a ser implantada num espaço público”, o que ainda não aconteceu.
Lusa