"Não nos iludamos: o Partido Socialista não alterou os seus compromissos particularmente com o grande patronato e com as imposições da União Europeia e do euro", afirmou Jerónimo de Sousa, durante o jantar comemorativo do 97.º aniversário do PCP, que reuniu cerca de 600 militantes e simpatizantes num restaurante na Ribeira Brava, zona oeste da Madeira.
O líder comunista vincou que o PS "encostou" ao lado do mais forte e do capital ao votar contra o pacote de medidas legislativas apresentadas esta semana pelo PCP na Assembleia da República, quando devia ter "alinhado" com os trabalhadores, os seus anseios e os seus direitos.
"Vejam o que aconteceu esta semana. Numa questão de fundo, naquilo que tem a ver com a vida, com a profissão, com o direito de contratação coletiva, com o direito a um horário justo, com o direito a tratamento mais favorável do trabalhador, nós colocámos projetos de lei em discussão na Assembleia da República. E o que é que se verificou? O PS a encostar à direita ao PSD e ao CDS para derrotar as nossas propostas", disse Jerónimo de Sousa.
O responsável alertou, por isso, que a "convergência" entre o PS, o PSD e o CDS-PP pode "claramente" acentuar-se.
"Anda para aí uma conversa, PSD e CDS, a dizer que existe um governo das esquerdas, que existe uma maioria de esquerda e, afinal, verificamos que essa maioria de esquerda não existe, que esse governo de esquerda não existe. Estamos perante um governo minoritário do PS", advertiu, lembrando que os socialistas apenas puderam constituir Governo com base numa relação de forças ao nível do parlamento, onde contam o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda.
O líder comunista sublinhou que no programa de Governo do PS não constavam muitas "medidas positivas", que depois foram possíveis devido "à força" do PCP.
"Sim, houve reposição de salários, houve aumento de reformas e pensões, houve o fim do corte do subsídio de desemprego, 200 mil crianças hoje têm manuais escolares gratuitos por iniciativa do PCP. Isto não estava no programa do PS nem do Governo", declarou.
Jerónimo Sousa, adiantou que, tal como aconteceu ao nível nacional, a região também poderá ensaiar nas eleições de 2019 a constituição de um Governo com base numa nova relação de forças ao nível do parlamento regional, para onde são eleitos 47 deputados.
No plano regional, a questão não está em saber se é este ou aquele [o presidente do Governo], mas, antes pelo contrário, como é que se vão arrumar os 47 deputados, que relação de forças é que se vai verificar", disse, sublinhando que as últimas eleições legislativas nacionais acabam com o "mito e o tabu" de que se vota para eleger um primeiro-ministro.
"Na verdade, tratavam-se de eleições para eleger 230 deputados e foi isso que fez a diferença", reforçou.