Na quarta-feira, num debate com o líder parlamentar do BE na RTP3, Pedro Pinto afirmou que se as forças de segurança “disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem”.
O assunto foi levantado no arranque da sessão plenária pelo deputado do PS Pedro Delgado Alves, que fez questão de condenar estas palavras.
“São declarações gravemente atentatórias do estado de direito, dos direitos fundamentais dos cidadãos, especialmente graves no momento que o país atravessa”, defendeu o vice-presidente da bancada do PS, anunciando que vai solicitar que estas declarações sejam avaliadas em conferência de líderes.
O líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, lembrou que este “não foi um assunto discutido” no parlamento, mas sim num programa televisivo.
“Se nós começamos a vir trazer para esta casa aquilo que se passa nos debates e nos programas televisivos, tínhamos muita coisa para trazer”, afirmou, acusando o PS de “má-fé” e de ter sido “invadido pela extrema-esquerda”.
O deputado do Chega disse ter feito “uma simples suposição e com algum tipo de ironia” e defendeu que “a censura acabou”, acusando os restantes partidos de serem “antidemocráticos”.
De seguida, vários partidos pediram a palavra, a começar pelo líder parlamentar do BE, que apelou a que o assunto seja “objeto de reflexão em sede própria, na Conferência de Líderes, e não no começo dos trabalhos”.
António Filipe, do PCP, defendeu que “a atividade de um deputado não se pode restringir de maneira nenhuma àquilo que diz em plenário, mas também àquilo que é a sua intervenção pública”.
Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, considerou que aquilo que acontece na vida real deve ser debatido no parlamento, visto “que representa precisamente aquilo que acontece no país”.
O social-democrata apelou, no entanto, aos deputados que não sublinhem “o disparate e aquilo que não diz nada à vida das pessoas que não seja fomentar o populismo, aumentar o ódio e fazer crescer o ruído à volta de uma questão que merece ser tratada com seriedade, credibilidade e respeito por todos quantos nelas estão a intervir”.
“Há comportamentos, incitamentos, posturas e coisas que se dizem que são lamentáveis e que deviam ser alvo da mais profunda reflexão por parte de todos nós e em especial por quem as profere e por quem anda há vários dias já a alimentar o ódio”, afirmou Mariana Leitão, presidente do grupo parlamentar da IL.
Pelo Livre, a líder parlamentar considerou que era inevitável que o assunto fosse levantado no parlamento e defendeu que seja discutido em conferência de líderes.
Isabel Mendes Lopes assinalou também que Pedro Pinto fez uma declaração “gravíssima” na quarta-feira e “não a corrigiu” hoje, continuando a “incitar ao ódio”.
Também a deputada única do PAN defendeu que o que acontece fora da Assembleia da República diz respeito aos deputados.
A vice-presidente da Assembleia da República, Teresa Morais, que estava a conduzir nos trabalhos, assinalou que estas intervenções não se trataram de interpelações à mesa sobre a condução dos trabalhos e deixou um apelo: “Vamos tentar deixar de fora do debate parlamentar aquilo que não acontece no debate parlamentar e vamos, por favor, respeitar as figuras regimentais”.
A deputada do PSD disse que “esta é matéria para, eventualmente, se os grupos parlamentares assim entenderem, ser abordada em Conferência de Líderes”.
Lusa