“É importante salientar que repudiamos claramente e que temos e teremos tolerância zero a qualquer ato de desordem e destruição praticados por grupos criminosos que, apostados em afrontar a autoridade do Estado e perturbar a segurança das comunidades, executam ou têm vindo a executar as ações que os jornalistas têm presenciado”, disse o diretor nacional em suplência da PSP, Pedro Gouveia.
Em conferência de imprensa, o superintendente explicou também que a PSP tem “um grupo de trabalho com todas as forças e serviços de segurança” e que estão a “trabalhar em uníssono” para repor a tranquilidade pública. Apelou ainda à calma e denunciou que as formas de protesto que estão a ser desencadeadas são ilegais.
Pedro Gouveia manifestou também uma “nota de pesar e condolências” para a família e os amigos de Odair Moniz, o cidadão baleado na noite de segunda-feira pela PSP, mas não se alongou sobre as circunstâncias em torno da morte, ao notar que estão a ser averiguadas numa investigação em segredo de justiça.
“A PSP não deixa de respeitar o que a lei determina e acatará, obviamente, as consequências e o resultado do inquérito”, vincou o diretor nacional em suplência, que também rejeitou indicar se Odair Moniz tinha ou não antecedentes criminais, referindo que “isso irá ser apurado no âmbito do inquérito-crime”.
Questionado sobre a forma e a estratégia que a PSP tem em marcha para conseguir repor a ordem e tranquilidade públicas nas zonas afetadas na última noite por desacatos – com especial incidência no Bairro do Zambujal (Alfragide, Amadora), no Bairro da Portela (Carnaxide, Oeiras) ou em Casal de Cambra (Sintra) -, Pedro Gouveia sublinhou que há um desejo de paz destas comunidades.
“O que temos ouvido nestes últimos tempos do bairro é que querem viver em paz e querem que a PSP reponha a normalidade nestes bairros. É inadmissível que as pessoas de bem em certas zonas se sintam reféns dos criminosos. As pessoas pedem justiça, tal como a polícia pede justiça para as pessoas que estão a ser reféns de um pequeno grupo de criminosos”, afirmou.
O diretor nacional em suplência da PSP realçou também a monitorização das redes sociais para o combate ao incitamento à violência e lembrou que está em causa um crime e que as pessoas que promovam ‘online’ atos de desordem ou de destruição de mobiliário urbano podem ser responsabilizadas criminalmente.
A PSP negou igualmente que a viatura na qual Odair Moniz seguia na noite em que acabou por morrer fosse furtada, uma informação que chegou a circular publicamente, mas que nunca constou nos comunicados da polícia.
“O trabalho está a ser desenvolvido com todo o apoio das autoridades governamentais e do sistema de segurança. Estamos em perfeita integração com as necessidades da PJ, quer seja na investigação sobre o cidadão, quer na investigação sobre os incêndios. Queremos celeridade na investigação”, finalizou.
Odair Moniz, 43 anos, cidadão cabo-verdiano, e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria a isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, em outros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros de autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.
Lusa