As estatísticas preocupam os hospitais: "Estas pacientes nunca permanecem apenas um ou dois dias. Existem muitos bébés prematuros e mães diabéticas", explica à AFP o diretor do hospital, Luiz Gustavo Araujo.
Em 2017, o mesmo estabelecimento recebeu 572 mulheres venezuelanas. Em 2016 havia recebido 288.
Em janeiro, 74 mulheres venezuelanas deram à luz no estabelecimento, quase duas vezes mais do que no período homólogo de 2017.
"Era impossível ter o meu bébé na Venezuela, a situação no país está cada vez pior, ambos morreríamos se eu ficasse", afirma Dayana Rodríguez, que sofreu convulsões durante o parto e teve que passar duas semanas hospitalizada após a cesariana.
Dayana não planeia voltar à Venezuela, país onde a criança "não teria praticamente nenhum futuro".
Na maternidade, os quartos são espaçosos, limpos, bem equipados e têm no máximo cinco mulheres, a maioria acompanhada por um familiar.
Numa das salas, Yulianny Vázquez, também com 17 anos, está prestes a dar à luz.
Originalmente de Tigre, no oeste da Venezuela, Vázquez chegou ao Brasil há quatro meses, grávida de gémeos.
"Estou aqui por causa da situação no meu país, não temos comida nem remédios", diz Yulianny, contorcendo-se de dores.
De acordo com Luiz Gustavo Araujo, as complicações decorrem, sobretudo, da falta de supervisão médica prévia, que poderia detetar problemas específicos como hipertensão ou diabetes.
Das 572 grávidas venezuelanas registadas em 2017, 228 foram classificadas como de alto risco.
"Elas [venezuelas] procuram-nos devido à falta de medicamentos no seu país, o que provoca um aumento nas nossas despesas, pois não esperávamos receber esse tipo de população", acrescenta o diretor.
As autoridades estimam que 40 mil venezuelanos vivem em Boa Vista, a maioria deles em condições precárias.
"Antes, recebíamos futuras mães de cidades próximas à fronteira, mas agora vêm de muito mais longe, mesmo de Caracas", refere o diretor da maternidade.
A capital venezuelana está localizada a 1.500 km de Boa Vista.
LUSA