No comunicado, a que a Lusa teve acesso, CR considera “inaceitável e ofensiva a sugestão de que os jornalistas utilizam auriculares para receber perguntas ‘sopradas’ ou ler questões pré-escritas nos telemóveis”.
Esta afirmação “demonstra um profundo desconhecimento sobre o funcionamento técnico dos meios televisivos e um desrespeito pela integridade profissional dos jornalistas”, prossegue a CR, que esclarece que “o uso de auriculares é essencial para que os jornalistas em reportagem possam escutar a emissão e as indicações da redação permitindo que se adaptem às necessidades da transmissão em tempo real e recebam informações cruciais para o desenvolvimento da reportagem, bem como comunicar com “a régie facilitando a coordenação e o trabalho colaborativo”.
O uso do auricular permite também “receber informações relevantes que podem ser cruciais para a contextualização da notícia e para a formulação de perguntas pertinentes”, pelo que “é lamentável que o primeiro-ministro, tendo na sua equipa assessores com experiência em televisão, não se tenha informado sobre a função dos auriculares antes de fazer afirmações levianas e desrespeitosas”.
O Conselho de Redação da RTP “defende um jornalismo independente, rigoroso e crítico, que questione o poder e cumpra o seu papel de serviço público”.
“Acreditamos que é preferível um jornalismo ‘ofegante’, que busca a verdade e a prestação de contas numa sociedade democrática e informada do que jornalistas amansados pelo poder político para o tentar transformar em mera voz de quem tem o poder institucional”, consideram.
O órgão apela para que o primeiro-ministro “se retrate pelas suas declarações e reconheça a importância de um jornalismo livre e independente”.
Manifesta “profunda preocupação face ao corte financeiro anunciado, o qual desafia a sustentabilidade do serviço público e a produção jornalística”, apontando que “a ausência de alternativas às verbas cortadas gera um clima de incerteza e dificulta a prossecução da missão fundamental da RTP de garantir um jornalismo livre de quaisquer ingerências, financeiramente sustentável e capaz de cumprir o seu papel essencial numa sociedade democrática, tal como defendido pelo primeiro-ministro”.
Além disso, “a falta de clareza quanto ao futuro e a ausência de um plano que assegure a viabilidade do serviço público de televisão, aprofundam as dúvidas e dificuldades, num momento em que a defesa da verdade e o escrutínio do poder são mais cruciais do que nunca”.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, fez na terça-feira várias apreciações sobre a atividade jornalística, na abertura da conferência “O Futuro dos Media”, afirmando que “é tão importante ter bons políticos como bons jornalistas para que a democracia funcione”.
Nesse sentido, o líder do executivo considerou que seria melhor se a comunicação social fosse “mais tranquila na forma como informa, na forma como transmite os acontecimentos e não tão ofegante”.
Lusa