“Tal como tínhamos treinado, as últimas 25 voltas foram completamente ‘full gas’. Foram cinco, seis minutos completamente no nosso limite. Não tínhamos intenção alguma de olhar para trás. Nem sequer se tivéssemos alguém na nossa roda. Nós tínhamos intenção de cavalgar para a frente”, disse Iúri Leitão.
Na estreia lusa masculina na pista, Iúri Leitão e Rui Oliveira juntaram-se a Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nélson Évora e Pedro Pichardo, todos campeões olímpicos no atletismo.
Depois da medalha de prata de Iúri Leitão no omnium, a dupla lusa somou 55 pontos, nas 200 voltas à pista do Velódromo Saint-Quentin-en-Yvelines, mais oito do que a Itália, com Simone Consonni e Elia Viviani, segunda classificada, enquanto a Dinamarca, com Niklas Larsen e Michael Morkov, terminou no terceiro posto, com 41.
Apesar de estar perante adversários mais experientes, Iúri Leitão assumiu que “estava confiante que podia derrotá-los”.
“A cerca de 60 e algumas voltas eu disse ao Rui que tínhamos que atacar. E a frase do Rui foi ‘calma, eles têm que se matar primeiro e, depois, nós arrancamos e vamos dar a volta a isto’. E eu… ok. É mesmo isso. Esperámos, esperámos, esperámos” até ao momento certo para atacar, explicou.
No sprint 18, a faltarem 20 voltas, os portugueses atacaram para somar cinco pontos, mas acabaram por se isolar, sem que ninguém os perseguisse.
“Fiquei muito espantado e aí percebi que se eles abriram a roda e eu estava a abrandar, isto vai ser nosso. E eu continuei e disse ao Rui ‘agora vamos aplicar aquilo que sabemos’. E não parámos mais e, lá está, nós continuámos sempre sem olhar para trás. Não nos importava se tínhamos alguém atrás de nós. Nós só queríamos voltar a chegar à posição um, dobrar todos os ciclistas, não só chegar ao grupo maior”, descreveu.
Quando chegaram à frente, com dois pontos de vantagem, a faltarem 10 voltas e o último sprint, Iúri Leitão pediu a Rui Oliveira para ter calma e marcar os italianos, que tinham “dois sprinters exímios”.
“Eu disse-lhe ‘vamos controlar a Itália, porque vamos conseguir ganhar isto’. Eu programei a minha última parte ‘off’, ou a descansar, digamos assim, para render a uma volta e meia. Entrei a uma volta e meia, tentei fazer o máximo de força possível no braço para ganhar o máximo de inércia, agarrei o guiador com as duas mãos e pensei ‘esta não me escapa'”, referiu.
Depois de atacar a cerca de 160 voltas do final, para somar três pontos, Iúri Leitão assumiu que pagou “um pouco o esforço”, devido à fadiga de quinta-feira da prova de omnium, que “acabou por se mostrar”.
“Eu avisei o Rui que não estava no meu melhor dia, mas isto não é uma corrida só de um ciclista, é uma corrida de dois. E se eu no final consegui ir buscar forças onde não as tinha foi muito pelo Rui, porque não estou a correr só por mim, estou a correr por ele também e ele só teve uma oportunidade de competir, eu tive duas. E não é justo da minha parte deixá-lo ficar mal, deixá-lo na mão. Enfim, ele merece todo o reconhecimento e todo o respeito. Ele é um dos ciclistas que mais me ajudou a crescer, ele e todos os meus colegas do resto da seleção. E eu tinha que fazer das tripas coração para conseguir entregar este resultado e muito disto é por ele”, admitiu.