A Quinzena de Cineastas, criada em 1969, é um programa independente não competitivo, que decorre em paralelo ao Festival de Cannes e é organizado pela Sociedade de Realizadoras e Realizadores de Cinema.
Da programação hoje anunciada fazem parte duas obras que retratam o território transmontano: a longa-metragem “A Savana e a Montanha”, de Paulo Carneiro, e a curta-metragem “Quando a terra foge”, de Frederico Lobo.
“A Savana e a Montanha” foi rodado em Covas do Barroso, no município de Boticas, e acompanha a luta dos habitantes contra a possibilidade de exploração das minas de lítio.
O projeto, atribuído à empresa britânica Savannah Resources, é para uma região reconhecida pela Organização das Nações Unidas “como o único Sistema do Património Agrícola de Importância Mundial em Portugal (e um dos poucos na Europa)” e a população local não está disposta a ser compensada financeiramente pelos impactos negativos da exploração de lítio, refere a agência Portugal Film, que vai distribuir o filme internacionalmente.
Em entrevista à agência Lusa em janeiro passado, Paulo Carneiro descreveu este filme, que tem coprodução com o Uruguai, como um “western social”, rodado na mesma região onde já tinha feito antes o filme de pendor biográfico “Bostofrio, où le ciel rejoint la terre” (2018).
“Quando a terra foge”, de Frederico Lobo, foi filmado integralmente na raia transmontana e tem coprodução entre a Terratreme Filmes e a Rua Escura.
“Entre o nevoeiro, num pleno labirinto do tempo, onde máquinas sondam as profundezas geológicas da montanha, um pastor vai em busca de uma vaca tresmalhada e a infância encontra o seu regresso. A serra transforma-se, o ciclo continua”, refere a sinopse.
Com a Terratreme, Frederico Lobo coassinou os filmes “Bab Sebta” (2008), com Pedro Pinho, e “Revolução Industrial” (2014), com Tiago Hespanha.
A estes dois filmes junta-se ainda, na Quinzena de Cineastas, a curta-metragem “O jardim em movimento”, da realizadora e artista visual Inês Lima.
A realizadora fez este filme com duas guias botânicas que conduzem um grupo de caminhantes pelo Parque Natural da Arrábida, na península de Setúbal. “Neste passeio entre várias espécies da fauna e flora, entendemos que este lugar particular está a sofrer uma mutação, não por causas naturais, mas pela mão humana”, lê-se na sinopse divulgada pela Agência da Curta-Metragem.
Numa coprodução com Portugal apresentar-se-á também o filme “Algo viejo, algo nuevo, algo prestado”, do realizador argentino Hermán Rosselli.
O filme, um híbrido entre documentário e ficção, retrato de uma família e do mundo do jogo clandestino, conta com a participação da Oublaum Filmes, de Ico Costa, presente pela primeira vez no festival de Cannes, refere a produtora portuguesa em nota de imprensa.
Na seleção anunciada hoje está também para produção brasileira “A queda do céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, sobre povos indígenas e a relação com a natureza, inspirada num livro de Davi Kopenawa Yanomami, xamã, e do antropólogo Bruce Albert.
A Quinzena de Cineastas decorrerá de 15 a 25 de maio, atribuindo, na abertura, um prémio de carreira à realizadora britânica Andrea Arnold.
No Festival de Cinema de Cannes, que decorrerá naquela mesma semana de maio – entre os dias 14 e 25 – está o filme “Grand Tour”, de Miguel Gomes, numa estreia deste realizador na competição oficial.
Na mesma competição está igualmente “Motel Destino”, do realizador brasileiro Karim Ainouz.
Destaque ainda para a presença de cinema brasileiro noutro programa paralelo de Cannes – a Semana da Crítica, de 15 a 23 de maio – cuja escolha de longas-metragens, anunciada na segunda-feira, conta com o filme “Baby”, do realizador Marcelo Caetano.