Segundo um estudo publicado quinta-feira na revista Science, estas redes sociais eram constituídas por pequenos grupos de indivíduos associados a uma rede mais ampla de grupos, entre os quais eram escolhidos os parceiros sexuais.
A equipa de investigadores, que integrou o português Vítor Sousa, analisou a informação genética dos restos mortais de humanos da espécie ‘Homo sapiens’ com cerca de 34 mil anos, encontrados em Sunghir, um sítio arqueológico do paleolítico superior perto de Moscovo.
As ossadas analisadas correspondiam a quatro indivíduos que, apesar de contemporâneos, não eram próximos do ponto de vista genético.
“Contrariamente ao esperado se estes indivíduos vivessem em grupos familiares isolados, as análises genéticas permitiram concluir que as duas crianças enterradas juntas não eram irmãs mas sim, no máximo, primas em segundo grau”, explica Vítor Sousa, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, sediado na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Segundo o estudo, que resulta da colaboração de uma equipa internacional liderada pelas Universidades de Cambridge, no Reino Unido, e de Copenhaga, na Dinamarca, os seres humanos do Paleolítico Superior compreendiam a importância de evitar a endogamia e procuravam voluntariamente parceiros sexuais além da sua família mais próxima.
“Se estes pequenos grupos de caçadores e recolectores se estivessem a reproduzir de forma aleatória, veríamos evidências muito superiores de endogamia do que aquelas que observamos”, afirmou o coordenador do estudo, Eske Willerslev. O investigador acrescenta: “Os dados que temos sugerem que a endogamia era evitada de forma propositada.”
Responsável pela investigação da relação entre os indivíduos de Sunghir, os humanos modernos e os neandertais, Vítor Sousa afirma que esta investigação representa a primeira vez em que foi possível sequenciar os genomas de vários membros de um grupo do Paleolítico.
“Até aqui, a maior parte dos dados provinham de sítios arqueológicos com apenas um individuo, o que não permitia responder a questões sobre a composição e evolução dos grupos sociais na nossa espécie”, acrescenta.
Através destes dados, a equipa pôde compreender o papel da migração e dos contactos dos humanos modernos com os neandertais, responsáveis pela diversidade genética atual. “Perceber como é que isso ocorreu é fundamental para, por exemplo, descobrir quais os genes associados a doenças complexas, como o cancro ou a diabetes”, explica Vítor Sousa.
Apesar de considerarem necessário obter informações mais antigas sobre os primeiros ‘Homo sapiens’ e os neandertais, os investigadores admitem que o desenvolvimento precoce destas redes sociais pode também explicar, pelo menos em parte, o motivo pelo qual os seres humanos modernos foram bem-sucedidos e outras espécies rivais não.
LUSA