O parlamento da Venezuela, no qual a oposição detém a maioria, enviou uma carta ao papa Francisco sobre "a grave crise económica e social" no país.
O presidente da Assembleia Nacional [parlamento], Júlio Borges, que assinou a carta, começou por sublinhar que a grave crise obriga os parlamentares a "levantarem a voz em nome dos que sofrem fome e miséria".
"O nosso país vive uma crise humanitária sem precedentes e de grandes dimensões. Associações não governamentais têm avaliado a sua gravidade e estudos recentes mostram uma dolorosa situação que clama pela consciência do mundo inteiro", explicou na carta, divulgada na quinta-feira, em Caracas.
A "cada semana morrem quatro crianças por subnutrição, o índice de escassez de medicamentos supera os 90% e milhões de venezuelanos cruzam as fronteiras para fugir da tragédia", disse.
"Esta penosa situação é o produto de um sistema que concebe o poder como força para a dominação das pessoas e se mostra indolente perante os efeitos da crise humanitária. Nos últimos meses, instituições internacionais, entre as quais, a Cáritas Chile, têm tentado fazer-nos chegar matérias primas, alimentos e medicamentos para aliviar o sofrimento", explicou.
Mas "quem ostenta o poder se tem negado a receber estes gestos de solidariedade", sublinhou.
"Somos vítimas da pior das injustiças sociais. Dói-nos encontrar, nas ruas da Venezuela, famílias inteiras a comer do lixo, crianças que morrem por falta de medicamentos e jovens que emigram à procura de um melhor futuro no estrangeiro", frisou.
Segundo o parlamento venezuelano, "à fome e à doença soma-se uma profunda crise institucional, marcada pela perseguição política" e os "que geraram as condições de fome e fecham as portas à ajuda humanitária, empenham-se em permanecer" no poder.
"Desconhecem que o país clama por justiça e ignoram os numerosos pedidos para retificarem. A teimosia leva-os a ignorar sistematicamente a Assembleia Nacional e a propor o seu desaparecimento físico. Essa atitude antidemocrática agrava a crise e evidencia uma tendência autocrática incompatível com a prosperidade e a liberdade", concluiu.
LUSA