O poderoso sindicato norte-americano que representa os trabalhadores do setor automóvel, aeroespacial e agrícola (UAW) encontra-se em greve há duas semanas, exigindo um aumento salarial, mais benefícios e menos horas de trabalho, mobilizando milhares dos seus inscritos, numa ação que de imediato suscitou o apoio dos dois partidos nos EUA.
Na última semana, a greve automóvel nos EUA, ainda sem fim à vista, conseguiu o facto inédito de levar um Presidente a integrar um piquete de greve e Joe Biden aproveitou para fazer campanha, que teve resposta imediata de Donald Trump, que esta semana voltou a falar a um debate entre os candidatos à nomeação eleitoral pelo Partido Republicano.
Joe Biden visitou o estado de Michigan na terça-feira, onde se localizam algumas das mais importantes fábricas de automóveis da maior economia mundial, para participar num piquete de greve, numa ação inédita, onde apareceu a recordar os seus esforços nos bastidores da Casa Branca para ajudar os trabalhadores a conseguir as suas exigências.
“Já me ouviram dizer isto muitas vezes: não foi Wall Street quem construiu este país. A classe média construiu este país. E os sindicatos criaram a classe média. (…) Vocês merecem o que conseguiram e merecem mais do que estão a receber agora”, disse Biden, perante os aplausos de centenas de trabalhadores à porta de uma fábrica da General Motors em Belleville, Michigan, nos arredores de Detroit.
A declaração de apoio de Biden surgiu dias depois de a Casa Branca ter tido conhecimento dos planos de uma visita do ex-Presidente Donald Trump – principal candidato Republicano nas primárias para as eleições presidenciais do próximo ano – ao estado de Michigan, para uma ação de campanha.
Biden procura manter o importante apoio do UAW, que o apoiou em 2020 na sua candidatura contra Trump, mas que ainda não manifestou a sua preferência para as eleições de 2024, depois de ter criticado a Casa Branca por estar a apoiar em demasia a transição para os veículos elétricos, o que pode colocar em causa, a curto prazo, a vitalidade do setor automóvel nos Estados Unidos.
Esse foi o mote para a visita de Donald Trump ao Michigan, onde foi acusar Biden de estar a obrigar que cerca de 70% dos carros vendidos nos EUA sejam totalmente elétricos, num prazo inferior a 10 anos.
A declaração de Trump é apenas parcialmente factual, porque não há qualquer diretiva governamental que imponha esta meta, mas é verdade que a Casa Branca propôs regras que obrigam as empresas do setor automóvel a aumentar drasticamente a sua produção de carros elétricos, no âmbito de um ambicioso plano de transição energética.
Trump – que lidera destacadamente as sondagens nas primárias Republicanas e poderá tornar-se o adversário de Biden na corrida presidencial do próximo ano – disse ainda que esta estratégia industrial do Governo Democrata colocará em risco 40% de todos os postos de trabalho no setor automóvel, uma séria preocupação do UAW.
“Os carros elétricos vão ser um desastre para os sindicatos e para os consumidores norte-americanos”, tem repetido o candidato Republicano nos seus recentes comícios, onde procura cativar a simpatia dos trabalhadores do setor automóvel, que foram um importante apoio de Biden nas eleições de 2020.
O sindicato apoia a transição para os veículos elétricos, mas exige algumas proteções laborais, para salvaguardar empregos, nomeadamente com a transferência de trabalhadores para as futuras fábricas de produção de baterias.
Por isso, Biden tem procurado que a Casa Branca faça a ponte entre os interesses sindicais e as não menos influentes organizações de fabricantes de automóveis, que têm feito um forte trabalho de lóbi no Congresso, junto de ambos os partidos, para conseguir apoio contra as exigências de aumentos salariais na ordem dos 40%, como exigido pelo UAW.
Lusa