O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,3% em termos homólogos no segundo trimestre deste ano, mas estagnou face aos primeiros três meses do ano, segundo os dados divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que confirmou a estimativa rápida publicada em julho.
Um cenário esperado pelos economistas, que alertam para um crescimento mais fraco no segundo semestre deste ano.
“A gradual fragilidade da economia alemã indicia crescentes dificuldades no futuro, ameaçando com uma recessão, pondo assim em causa um crescimento económico positivo em Portugal no segundo semestre”, refere em declarações à Lusa o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa.
O diretor do gabinete de estudos do Fórum, Pedro Braz Teixeira acredita ser de esperar que o segundo semestre tenha um crescimento fraco”, assinalando que “o enquadramento externo está a deteriorar-se bastante”.
Ainda assim, os economistas acreditam que este desempenho não irá comprometer as taxas anuais positivas.
“Apesar de ter subido 2,3% em termos homólogos, a economia portuguesa travou a fundo no segundo trimestre, registando um crescimento nulo em cadeia. Todavia, o robusto crescimento do primeiro trimestre, suportado sobretudo pelo turismo e outras exportações, permite alguma tranquilidade para a segunda metade do ano”, assinala o economista sénior do Banco Carregosa.
O economista salienta que “mesmo que a economia portuguesa não crescesse no segundo semestre, um crescimento anual de 1,6% estaria garantido”.
Já o diretor do gabinete de estudos do Fórum destaca ainda que “o crescimento do primeiro trimestre tinha sido tão excecional” que “era difícil manter, pelo que algum abrandamento das exportações seria de esperar”.
As exportações totais diminuíram, em cadeia, 2,3% em termos reais – o que compara com o aumento de 6,1% no trimestre anterior -, tendo a componente de bens registado uma variação de -0,6% e a de serviços -5,4%, enquanto no primeiro trimestre registou taxas de 3,9% e 10,3%, respetivamente.
“Esta diminuição em cadeia é um pouco inquietante”, assinala Pedro Braz Teixeira.
Por outro lado, na comparação em cadeia, o consumo privado melhorou, tendo as despesas de consumo das famílias aumentado 0,6% (quando a variação em cadeia no trimestre anterior foi de 0,2%), com um aumento de 0,7% nas despesas em bens não duradouros e serviços, enquanto a componente de bens duradouros registou uma taxa de variação em cadeia nula.
“A aceleração do consumo privado é ligeiramente surpreendente e dificilmente sustentável. É muito possível que do lado do consumo tenhamos más notícias para o resto do ano, com as taxas Euribor a continuarem a subir. Quanto mais não seja devido ao efeito desfasado para consumidores que ainda não sentem o impacto, mas vão começar a sentir este efeito”, prevê.
O economista Paulo Rosa dá ainda nota de que, “além da forte subida das taxas de juro, a gradual subida dos preços dos combustíveis no último mês pode penalizar o crescimento económico português, alicerçado sobretudo no turismo”.
“Os fantasmas de uma estagflação podem regressar neste segundo semestre, como pode ser corroborado pela subida da inflação para 3,7% em termos homólogos em agosto e de 0,3% em termos mensais (em julho os preços tinham caído 0,4%)”, aponta.
O economista do Banco Carregosa alerta que “as economias da zona euro têm mostrado desempenhos díspares, tendo as economias do sul beneficiado do bom momento do setor do turismo no pós-pandemia e da deslocalização de algum turismo do leste europeu, centro de tensões geopolíticas, enquanto as economias setentrionais, mais industrializadas, têm sido penalizadas pela fraco desempenho da economia chinesa e pelas elevadas taxas de juro que impactam negativamente o crescimento”.
Pedro Ferraz da Costa considera ainda que o aumento da taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) para 3,7% em agosto, mais 0,6 pontos percentuais do que em julho, divulgada hoje pelo INE, “não é uma boa notícia, mas não parece especialmente preocupante”.
O economista destaca antes a estabilização da taxa de inflação anual na zona euro, que segundo uma estimativa rápida hoje publicada pelo Eurostat, se manteve em agosto nos 5,3%, mas abaixo dos 9,1% homólogos.
Já a taxa de inflação ‘core’ (subjacente) da zona euro, que não tem em conta o impacto dos produtos alimentares transformados e a energia, recuou para os 6,2%, face aos 6,6%.
“A parte mais importante é a desaceleração da inflação subjacente. Vamos ver se cria margem para o Banco Central Europeu (BCE) fazer uma pausa na subida dos juros na próxima reunião”, disse.
Lusa