O líder da Igreja Católica esteve como peregrino na sessão, que durou uma hora e meia, acompanhada por músicas interpretadas por elementos do coro e da orquestra da JMJ, dirigidos pela maestrina portuguesa Joana Carneiro, e coreografias do elenco do Ensemble 23, um grupo composto por 50 jovens de 21 nacionalidades que atuam nos eventos centrais da JMJ.
Depois de percorrer o recinto no papamóvel no meio dos cerca de 800 mil peregrinos presentes na ‘Colina do Encontro’, no Parque Eduardo VII, o Papa Francisco participou, no palco, na Via Sacra, uma prática tradicional católica na qual se revive, com momentos de oração, os 14 momentos (estações) das últimas horas de vida de Jesus, desde a condenação à morte até à sepultura.
Cada estação correspondeu a uma fragilidade da sociedade que afeta os jovens atualmente, identificadas por 20 jovens dos cinco continentes que integram um grupo de consultores do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida: pobreza, violência, solidão, falta de compromisso, intolerância, individualismo, saúde mental, destruição da Criação, dependências, incoerência, crises humanitárias, produtivismo, desinformação-infoxicação e medo do futuro.
Na terceira estação – "Jesus cai pela primeira vez" -, numa mensagem transmitida nos ecrãs gigantes, Esther, uma espanhola de 34 anos, deu conta das dificuldades por que passou na sua vida e que a faziam sentir-se "perdida no mundo" – um acidente que a deixou numa cadeira de rodas, um aborto e relações amorosas problemáticas -, até que sentiu "a infinita misericórdia de Deus".
Pela primeira vez na sua vida, confessou-se com "um arrependimento profundo" e regressou à Igreja, o que, disse, mudou a sua forma de viver.
Na sétima estação, em que "Jesus cai pela segunda vez", João, de 23 anos, relatou os efeitos que a pandemia de covid-19 teve na sua saúde mental e a dificuldade que sentiu em procurar ajuda.
"Ainda é desconfortante, para tantos, admitirem que precisam de um psicólogo, como eu precisei. É difícil reconhecer a nossa fragilidade, pedir ajuda e perceber que não somos autossuficientes; temos medo de ser um fardo e de encontrar rejeição", comentou.
Recordou que durante o isolamento revisitou o período em que sofreu ‘bullying’ na escola e que o levou a uma "verdadeira cruzada interior" para "descobrir o que havia de errado" em si, afirmando viver em "isolamento emocional".
"Normalmente quem mais sofre são aqueles que não se sentem bem-vindos. (…) A fé ajuda-me sempre quando caio. (…) Juntos, como humanos, é possível vencer todo o isolamento, todo o individualismo".
Na nona estação – "Jesus cai pela terceira vez" – o norte-americano Caled, de 29 anos, descreveu-se como "uma das ovelhas perdidas por quem Jesus veio a correr".
Após uma infância difícil num "lar destruído" e com o "divórcio horroroso" dos pais, caiu na toxicodependência e sentiu um "desejo de pôr fim" à vida, obstáculos que foram ultrapassados após perceber "quem Jesus realmente é".
No início da sessão, o Papa disse que Jesus é o caminho e a resposta às lágrimas dos jovens, desafiando-os a acompanhar Cristo para voltarem a sorrir.
"Jesus caminha por mim, para dar a sua vida por mim e ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida", afirmou Francisco.
O Papa pediu aos jovens que se questionassem por que choram de vez em quando.
"Todos na vida chorámos e choramos e aí está Jesus connosco. Ele chora connosco, porque nos acompanha na escuridão", afirmou.
Francisco salientou que "Jesus espera preencher com a sua proximidade" a solidão e quer preencher esses "medos obscuros" com consolo.
"Espera empurrar-nos a abraçar o risco de amar. Sabem melhor do que eu que amar é arriscado. É preciso correr o risco de amar. É um risco, mas vale a pena corrê-lo", adiantou, desafiando os jovens, com o seu sofrimento, ansiedade ou solidão, a fazer caminho com Jesus.
O momento terminou com os jovens do Ensemble23 a cumprimentarem, emocionados, o Papa, com quem tiraram uma fotografia, ao som da música "This I Believe (The Creed)", dos Hillsong Worship, cantado por Salvador Seixas.
O conceito e alguns dos conteúdos da sessão foram inicialmente pensados por uma equipa ao Centro Universitário Padre António Vieira (jesuítas), em Lisboa, e posteriormente assumidos pela direção artística da Fundação JMJ.
À Via-Sacra, que teve início pelas 18:00, assistiram membros da Igreja, autoridades e individualidades, como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.