O alerta foi dado pela presidente cessante da Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas (SBDP), Fátima Pita, em Caracas, durante um bingo de angariação de fundos que assinalou o 54.º aniversário daquela instituição.
“As pessoas têm vergonha de chegar a uma instituição a pedir, porque vieram com esse fim de poder fazer uma vida melhor e não tiveram a sorte de o fazer”, disse Fátima Pita à agência Lusa, sublinhando que “são muitas as causas” pelas quais acabaram por ter “a mesma vida que veem em outras pessoas”.
Segundo Fátima Pita, “nem todos tiveram a mesma sorte".
"Uns têm um pouco mais, outros menos, e há um grande grupo de pessoas que nem se sabe onde estão, porque têm vergonha de aproximar-se de nós. Ficamos tristes quando chega um caso desses à nossa instituição, e estão a chegar muitos, todos os dias, principalmente neste ano”, descreveu.
A responsável disse que a organização precisa de “muitos apoios para poder ajudar quem não recebe ajuda de Portugal, ou que não têm o mesmo direito que quem viveu em Portugal toda a vida, para poder solucionar os problemas que têm”.
Segundo a dirigente da SBDP, na Venezuela muitos portugueses têm dificuldades para pagar medicamentos, comida, aluguer e outras necessidades do dia a dia. São principalmente anciãos e pessoas empobrecidas que já não podem trabalhar e que não recebem ajuda “porque não têm os mesmos direitos de quem vive em Portugal, apesar de serem portugueses”.
“Seria muito importante que possam receber ajuda, como qualquer outra pessoa idosa que vive em Portugal, porque vieram para a Venezuela, à procura de uma melhor vida, mas não tiveram a sorte de a conseguir (…) chegam aos 60 e 70 anos, e não podem trabalhar, e não têm uma pequena pensão e na Venezuela é muito difícil”, explicou.
Por outro lado, afirmou estar muito grata pela oportunidade de desde há 15 anos fazer parte da direção da SBDP, em particular dos sete anos em que foi presidente: “Ganhei muitas experiências tanto de quem nos pedia ajuda, como das anteriores presidentes. Foi uma aprendizagem. Foi satisfatório trabalhar”.
Relatou ainda que aquela instituição passou por anos um pouco difíceis, mas agora está “muito melhor”.
“Desde há quatro anos que recebemos ajuda do Governo português, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que tem sido muito boa para poder levar a cabo as nossas funções (…). A ajuda de Portugal tem sido uma peça fundamental para poder trabalhar. Recebemos também muita ajuda de empresários e de particulares, mas há muitas pessoas carenciadas e cada vez precisamos de mais ajudas”, disse.
Sobre o dia a dia na SBDP, explicou que as ‘damas’ acordam a pensar no que têm que fazer, em atender telefonemas, preparar os cabazes e as sopas que distribuem, bem como medicamentos.
Por outro lado, Lucecita Fernandes, presidente eleita da SBDP, mostrou-se agradecida pela resposta da comunidade ao bingo de aniversário, sublinhando que foi organizado pelas ‘damas’ para angariar fundos para obras sociais.
No entanto, alertou que “por um lado, a comunidade responde, contribuindo, mas por outro lado, há também mais conterrâneos a bater à nossa porta para pedir ajuda”.
“Estamos a acompanhar mais de 100 famílias [mais de 300 beneficiários] e temos também casos ocasionais de pessoas que chegam por uma ajuda específica, para completar para um tratamento ou quando não podem pagar um exame médico”, descreveu.
Sobre a sua gestão, explicou que tem a expectativa de “fazer o melhor possível” para ajudar os portugueses e que conta com “uma equipa de mulheres que tratam as pessoas com o respeito e a dignidade necessária”.
“Quero agradecer também ao Governo português, porque nos teve em conta, agradecer a confiança que deu às Damas de Beneficência para que possamos atender os nossos conterrâneos da melhor maneira”, disse.