Um estudo feito pelo LABPATS, que hoje apresenta as suas recomendações ao nível das políticas, organizações, lideranças e profissionais, indica que quase 80% dos trabalhadores apresentam pelo menos um sintoma de ‘burnout’ e que os trabalhadores da saúde, educação e administração pública são os de maior risco.
Neste grupo de maior índice de risco estão igualmente os trabalhadores dos setores dos transportes, área social e comércio e retalho.
“O facto de cerca de 80% dizer que tem pelo menos um dos destes sintomas – tristeza, irritabilidade, exaustão e cansaço extremo – é algo que nos preocupa”, disse à Lusa a psicóloga Tânia Gaspar.
A coordenadora do LABPATS lembra que “há vários fatores de risco para o ‘burnout’”: “Por exemplo, pode haver exigência extrema a nível do esforço físico e psicológico, emocional ou até cognitivo, mas também [contribuem] as tensões e relações tóxicas com as lideranças e com os próprios colegas de trabalho”.
Refere igualmente que, para a situação de ‘burnout’ também pode contribuir o facto de a pessoa sentir que seu trabalho não é reconhecido ou que as suas competências estão mal aproveitadas.
“A pessoa acaba por ter um desempenho mais debilitado, (…) tende a trabalhar menos e a fazer mais erros, a ter mais ‘stress’, a criar mais relações menos positivas também no contexto laboral, afetando o trabalho de equipa”, disse a responsável, insistindo: “Ter uma pessoa nesta situação também não é positivo para a própria organização e há aqui um trabalho de prevenção a fazer”.
Os investigadores apontam igualmente a necessidade de as empresas desenvolverem estratégias de gestão de conflitos e chamarem a atenção para a importância de trabalhar a questão das lideranças.
Para Tânia Gaspar, as chefias intermédias são nas empresas um grupo em grande risco de ‘stress’ e devem ter uma intervenção específica, como o ‘coaching de liderança’, para garantir um ambiente de trabalho saudável.
A psicóloga clínica lembrou que as lideranças estão como que “numa posição de sanduíche”: “Estão em grande pressão pois acabam por estar pressionadas pela administração para cumprir os objetivos (…) e pelas próprias características dos profissionais que são difíceis de gerir”.
“Se eu tivesse de definir um ponto para intervir [nas empresas] era nas lideranças. Porque além de serem profissionais que também têm que ter bem-estar [no trabalho] eles têm uma grande influência no bem-estar dos outros”, considerou.
Para os especialistas, a aplicação da semana de quatro dias, sem perda de remuneração, ajudaria a conciliar a vida profissional e familiar e a reter as novas gerações, para quem “o trabalho não é tudo na vida”.
Tânia Gaspar considera que as empresas têm de mudar o seu paradigma "se querem reter os profissionais", explicando que “as novas gerações têm outra atitude face ao trabalho e valorizam realmente muito o seu bem-estar”: “O trabalho é uma área da sua vida, mas não é a área da sua vida”.
Quanto à semana de quatro dias, a investigadora sublinha que só funciona com algumas condições: “Que não haja decréscimo salarial, ou seja, que a pessoa não fique a receber menos, e que a pessoa não tenha que fazer o trabalho de todos os dias naqueles quatro dias, senão acaba por ficar completamente sobrecarregada”.
Nas recomendações do LABPATS são igualmente sugeridas mudanças na legislação sobre saúde ocupacional, integrando nas equipas um psicólogo do trabalho/sociólogo do trabalho, para fortalecer a relevância da saúde mental e psicossocial, uma das dimensões que apresenta maior risco.