"O grande apreciador da nossa sidra é o turista, mas o madeirense, sobretudo os mais jovens, começa já a consumir. É uma bebida que não tem um grande teor alcoólico, é quase um sumo e isso atrai a malta nova", disse à agência Lusa o padre Rui Sousa, responsável pela Sidraria dos Prazeres.
Embora sem tradição na produção de sidra, a freguesia dos Prazeres, no concelho da Calheta, na zona oeste da Madeira, sempre foi uma área de "excelentes pomares", mas devido ao envelhecimento da população e ao abandono dos terrenos, nos últimos anos perdiam-se toneladas de fruta.
"Aproveitar a maçã e o pero para fazer sidra foi uma forma de combater o desperdício e também contribuir para a economia familiar", explicou Rui Sousa, indicando que, no caso da ‘Arrebita’, a fruta é adquirada a cerca de 20 produtores do concelho.
A primeira experiência na produção de sidra foi realizada em 2007, na Quinta Pedagógica, um projeto da paróquia local, então gerida por Rui Sousa, e prossegue desde 2021 na Sidraria dos Prazeres, de iniciativa privada.
Nesse ano, a produção foi de 17.500 litros, valor que baixou para 7.500 litros em 2022, integralmente comercializados no mercado regional.
A ‘Arrebita’ é engarrafada em recipientes de 33 e 75 cl e o lote vencedor da medalha de ouro, na categoria natural/seca, no concurso internacional Cider World 2023, em Frankfurt, Alemanha, estagiou em barricas de vinho Madeira, tendo sido colocadas no mercado 3.000 garrafas.
"É uma sidra tradicional, artesanal, sem adição de açúcares", explica Regina Pereira, da Direção Regional de Agricultura, responsável pelo apoio técnico à Rede de Sidrarias da Madeira, especificando que tem cor citrina, é seca e com acidez vibrante (própria da fruta), tem aroma a vinho Madeira e prolonga-se na boca. O volume de álcool é 6,5%.
Atualmente, a Madeira conta com 42 produtores e três sidrarias — duas privadas e uma pública, havendo já projetos para a construção de mais duas unidades públicas.
Na campanha 2021/2022 foram processados 67.855 quilos de peros e maçãs, para um total de 45.725 litros de sidra.
A estimativa aponta para um volume de negócios de 500 mil euros.
Em 2016, foi criada a Associação de Produtores de Sidra da Região Autónoma da Madeira (APSRAM), cujo principal objetivo é promover e defender a qualidade do produto regional e que obteve a marca de qualificação IG (Indicação Geográfica) da União Europeia, estando agora em andamento o processo para obtenção da marca IGP (Indicação Geográfica Protegida).
Prazeres (concelho Calheta), Jardim da Serra (Câmara de Lobos), Santo da Serra (Santa Cruz) e São Roque do Faial (Santana) são as freguesias com maior produção de sidra e, por outro lado, as autoridades regionais estão a promover a recuperação e manutenção das variedades regionais de peros e maçãs para diferenciar o produto em termos de qualidade.
De acordo com dados oficiais, em 2017 foram incluídas no Catálogo Nacional de Variedades de Espécies dez variedades de macieiras/pereiros únicas da Madeira: Maçã Barral; Maçã Cara de Dama; Pero Calhau; Pero Domingos; Pero Ponta do Pargo; Pero Bico de Melro; Pero Branco; Pero da Festa; Pero Focinho de Rato e Pero Vime.
"Vamos estudar uma estratégia de comercialização e a desenvolver um conjunto de atividades para aumentar a venda junto dos turistas", disse à agência Lusa o secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Humberto Vasconcelos, reconhecendo que este é um ponto fraco do setor.
A secretaria vai, por isso, organizar a primeira edição do Festival de Sidra da Madeira — Cidra Fest — de 04 a 08 de junho, no Funchal, reforçando assim os eventos de promoção já existentes, como a Mostra Regional da Sidra, organizada pela Casa do Povo do Santo da Serra, o Festival da Truta – Rota da Sidra – Encontro de Grupos Culturais do Concelho de Santana, iniciativa da Casa do Povo de São Roque do Faial, e a Semana das Sidras, instituída pela Quinta Pedagógica dos Prazeres.
"Depois, vamos avançar para a exportação, enquadrando-a nas medidas financeiras de apoio ao transporte, para colocar a sidra madeirense no mercado nacional e internacional a preços competitivos", afirmou Humberto Vasconcelos.