O protesto teve lugar depois de residentes no edifício Quadricentenário, da paróquia de São Pedro (centro de Caracas) denunciarem que funcionários policiais de municipais estão a investigar quais são os apartamentos vazios e inclusive obrigar os familiares de proprietários que estão ausentes a abandonar os imóveis.
Segundo fontes não oficiais, há mais de uma dezena de casos de invasão e expropriação de apartamentos apenas no edifício Quadricentenário.
"Na quarta-feira, um grupo de membros da comuna (autoridade local) chegou, junto com a Polícia Nacional Bolivariana, e membros da prefeitura do Município Libertador, a perguntar quais apartamentos estavam vazios", explicou aos jornalistas o coordenador da Frente Norte de Defesa de Caracas, Carlos Júlio Rojas.
Carlos Júlio Rojas precisou que estas pessoas "forçaram" as fechaduras de um apartamento que invadiram dizendo que "vai ser adjudicado a famílias sem habitação".
"Isto é uma franca violação da propriedade privada. Não é um caso isolado, está a acontecer em várias zonas de Caracas. Durante a semana passada foi invadido um hotel da esquina Porto Escondido, por coletivos armados do partido Unidade Popular Venezuelana [afeto ao regime]", explicou.
Segundo Carlos Júlio Rojas, está a ocorrer "um vulgar roubo de propriedade privada".
"Está-se a aplicar algo que era muito comum na União Soviética e em Cuba, que é usar os ‘compatriotas cooperantes’ [com o regime] e dizer a quem distribui as caixas CLAP [de alimentos a preços subsidiados] que notifiquem quando vejam algum apartamento vazio, para que essa propriedade seja tirada ao proprietário", explicou.
Carlos Júlio Rojas precisou que, "devido à diáspora e à crise, entre 30% e 40% das edificações estão desocupadas", em São Pedro.
Por outro lado, uma habitante, Luisana Álvares, denunciou aos jornalistas que lhe deram o prazo de 15 dias para desalojar um apartamento de um familiar porque o proprietário está asilado no estrangeiro.
"Eles dizem que, ao ter asilo político, perdeu totalmente o direito ao seu apartamento, que deve ser habitado por outra pessoa que o necessite", frisou.
Uma outra residente do setor lamentou que as pessoas não possam emigrar, mesmo que seja para o interior do país, porque "perdem os apartamentos que permaneçam fechados mais de três meses"
"O meu irmão emigrou e no apartamento ficou a minha cunhada com três filhos. Chegaram da junta liquidadora da Câmara Metropolitana de Caracas e fizeram assinar um ata de compromisso de desalojamento, da qual não deixaram cópia", descreveu.
C/ LUSA