As detenções, segundo o CNP (entidade responsável pela emissão da carteira profissional de jornalista) ocorreram em 31 de março na localidade venezuelana de Apure (450 quilómetros a sudoeste de Caracas), fronteiriça com a Colômbia, quando cobriam operações das Forças Armadas da Venezuela contra dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
“Os jornalistas de NTN24 Luís González Pérez e Rafael Hernández, que realizavam a cobertura do conflito em Apure, foram detidos pela GNB, juntamente com dois ativistas (Juan Salazar e Diógenes Tirado) da Fundaredes”, anunciou o CNP na rede social Twitter.
Segundo a NTN24, pelas 16:00 locais (20:00 em Lisboa) de 31 de março, os jornalistas conseguiram informar a estação de que seriam libertados, mas desde então não houve mais informações.
Num comunicado, a NTN24, canal crítico do regime venezuelano, salientou que o exercício da imprensa, durante conflitos armados, está previsto no Direito Internacional Humanitário.
“Os jornalistas não perdem a sua condição de civis. Não são parte dos conflitos que cobrem”, afirma a NTN, que exige a libertação dos detidos.
O diretor da FundaRedes (ONG defensora dos Direitos Humanos), Javier Tarazona, também manifestou preocupação pelo ocorrido e explicou que as detenções tinham como propósito “verificar o conteúdo dos telemóveis e equipamento audiovisual”.
“Deixámos de ter contacto com eles e consideramos que estamos perante um desaparecimento”, explicou através do Twitter, e denunciou que os ativistas da FundaRedes eram alvo de “assédio e arbitrariedades por tentar documentar o conflito existente nessa região fronteiriça e as violações de direitos humanos”.
Segundo o Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela em 2020 ocorreram 355 casos de agressões à imprensa, 61 detenções arbitrárias e 15 bloqueios a portais de notícias.
Em 21 de março dois militares venezuelanos morreram em confrontos com grupos rebeldes armados colombianos, segundo o Exército da Venezuela, num comunicado, que dá ainda conta da detenção de 32 rebeldes.
Segundo as autoridades colombianas, mais de três mil pessoas fugiram de Apure (sudoeste) para Arauca, devido aos confrontos entre as forças armadas venezuelanas e os dissidentes das FARC.
De acordo o coordenador da FundaRedes, Juan Garcia, as pessoas em fuga são pequenos produtores agropecuários, mulheres, crianças e idosos.
Juan Garcia explicou que "o deslocamento da população civil é grave" e as forças armadas venezuelanas fizeram "um ataque com grande força de maneira indiscriminada", sem pensar nos habitantes da zona, que durante anos estiveram sujeitos aos "mesmos grupos guerrilheiros que hoje são atacados".
Seis acampamentos foram destruídos e os militares venezuelanos apreenderam uma quantidade indeterminada de armas, munições, explosivos, veículos automóveis e droga.
A Venezuela e a Colômbia partilham 2.200 quilómetros de fronteira comum.