Os “coletivos” têm uma história muito antiga, mas em 2002, na presidência de Hugo Chávez, foram aumentando. O “Che” lusodescendente afirma que neste momento de crise política, económica e social, estes grupos vão continuar a fazer o que têm feito, “o apoio ao povo”.
Sobre a possibilidade de entrarem em combate, diz que não chegou esse momento. “Se chegasse, esperemos que não, se houvesse uma invasão, claro que tinha que se juntar os coletivos contra o invasor. E se os invasores também forem oposição vamos também contra eles, pelo ideal coletivo”.
Humberto Lopes defende Nicolas Maduro neste impasse político que o país vive com um Presidente de facto contestado por vários países da comunidade internacional e um Presidente, Juan Guaidó, ajuramentado para cumprir a realização de eleições livres e transparentes.
O “Che Guevara Caraquenho” pertence ao Coletivo La Piedrita, um dos grupos paramilitares, armados, do bairro 23 de Janeiro, zona pobre onde Lopes nasceu em 1958, próximo do palácio presidencial de Miraflores.
Tudo teve início quando começou a ler um livro que lhe foi oferecido sobre o revolucionário Eduardo Ché Guevara e hoje não esquece que nesses tempos foi perseguido pelas autoridades por ter material que era considerado subversivo.
O homem que cultiva a imagem de “Che”, desde a roupa, a boina, o cabelo, e a barba, é contra a entrada de ajuda humanitária no país, apesar de reconhecer que há falta de alimentos e de medicamentos e que há crianças a comer no lixo.
O “Che” de Caracas é muito crítico da atual situação do país, e apesar de reconhecer que no Governo, “do mais alto até ao porteiro, estão envolvidos em atos de corrupção”, acaba por defender com ‘unhas e dentes’ o atual regime.
Sobre o trabalho dos ‘coletivos’, nega a má fama de que andam com armas a matar pessoas. Pelo contrário, diz que o trabalho dos ‘coletivos’ é defender as mensagens que o comandante Chávez lhes deixou, da pátria, de quem era Simon Bolívar, e também de “retirar os jovens da droga”.
Questionado pela Agência Lusa sobre se os ‘coletivos’ são uma espécie de braço armado do partido do Governo, admite que “é um grupo armado” porque também é uma força de apoio à polícia. E lembra que “quando há delinquência, é preciso”.
Sobre Juan Guaidó não esconde que desconfia do apoio norte-americano que demonstra ter e questiona “como é que se pode pedir uma intervenção estrangeira no seu próprio país?”
“Nicolás Maduro foi eleito em eleições. Querem umas novas eleições? Então esperem até às próximas, em 2025”, conclui.
As convicções do revolucionário, enquanto apoiante do regime, não passam pela defesa do socialismo: “Nem comunismo, nada. A não ser que estejam a falar de um país que se chama Suécia”.
O “Che” considera-se “nacionalista ‘guevarista’ revolucionário, nem de esquerda, nem de direita: "A revolução é a mudança do mal para o bem”.
Se admite que as pessoas estão a passar mal, mas apoia um regime que diz “idiotizar o povo”, então de quem é a culpa? “Os culpados desta crise atual que estamos vivendo, tem um só nome, é o dólar”.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo a ONU.
Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
LUSA