Na sequência da reunião de terça-feira no Infarmed, em Lisboa, que voltou a juntar especialistas, Governo, representantes dos partidos e Presidente da República para a análise da situação epidemiológica, o Conselho de Ministros deve seguir as sugestões dos peritos, que apontaram para a necessidade de simplificação de medidas e para uma abordagem uniforme ao território nacional, face à prevalência da variante Delta.
Em causa poderão estar o fim do recolher obrigatório ou o alargamento da “possibilidade do funcionamento das atividades económicas”, como referiu na quarta-feira o ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira. Estes cenários poderão ser conjugados com um reforço da aposta no certificado digital para o acesso das pessoas a diferentes espaços ou eventos, no sentido de uma maior retoma das atividades em sociedade.
A perspetiva de normalização da vida em pandemia ocorre perante o abrandamento do ritmo de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 e a tendência de estabilização da incidência de covid-19 por 100 mil habitantes a 14 dias, depois de um mês que fica marcado por uma quarta vaga, cuja expressão só não terá tido maior gravidade para as pessoas e para os serviços de saúde devido ao avanço registado no processo de vacinação.
O boletim divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) na quarta-feira, que contabiliza os dados obtidos até às 23:59 do dia 27 de julho, indicou 3.452 novas infeções, num total de 960.437 casos confirmados, dos quais 891.687 foram dados como recuperados e 51.430 permanecem ativos, além de 13 óbitos (total de 17.320) e 80.475 contactos em vigilância.
Comparando estes números com os dados do relatório de situação da DGS divulgado no passado dia 01 de julho, em que se verificavam 2.449 novos contágios e um acumulado de 882.006 casos – dos quais 830.224 recuperados e 34.681 ativos -, um total de 17.101 mortes e 53.260 contactos em vigilância, é possível depreender a dimensão desta quarta vaga, se bem que longe da pior fase da pandemia em Portugal, entre janeiro e fevereiro de 2021.
Em quatro semanas registou-se um aumento de 8,9% no total de casos confirmados, com a variação a subir para 48,3% em relação aos casos ativos e um acréscimo de 51,1% nos contactos em vigilância pelas autoridades. A mortalidade traduziu-se em mais 219 óbitos neste período, que representou quase o triplo dos mortos em todo o mês de junho (76).
A incidência não reflete ainda a estabilização da pandemia, com os atuais 428,3 casos de infeção por 100 mil habitantes a nível nacional (439,3 a nível continental) muito acima (aumento de 147,9% nacionalmente e 148,3% no continente) dos valores observados no primeiro dia do mês (172,8 para o território nacional e 176,9 para o continente).
Todavia, o Rt aponta o caminho de diminuição da transmissibilidade, na medida em que em 01 de junho estava em 1,14 e 1,15 (nacional e continental) e agora é de 1,01 para as duas áreas, indiciando que a pior fase deste ‘pico’ já terá passado.
Por outro lado, a pressão hospitalar também acompanhou esta evolução da pandemia, ainda que sem levar à suspensão de atividade assistencial como no início do ano.
Na quarta-feira estavam internadas 934 pessoas em enfermaria, das quais 200 em unidades de cuidados intensivos (UCI), enquanto no dia 01 de julho estavam 509 e 113, respetivamente, o que retrata um aumento de 83,5% ocupação de camas em enfermaria e de 76,9% em UCI.
A grande diferença para as vagas anteriores da pandemia esteve na cobertura vacinal da população – muito superior àquela que se verificava no primeiro trimestre de 2021.
De acordo com os dados do último relatório de vacinação (semana 29), que compilou dados até 25 de julho, houve uma diferença de 20 pontos percentuais (p.p.) em termos de vacinação completa, com aproximadamente mais dois milhões de pessoas a completarem o esquema.
Assim, há já 6.865.047 pessoas a terem pelo menos uma dose, ou seja, 67% da população, e 5.389.935 (52%) utentes com vacinação completa. A nível regional, a cobertura com primeiras doses variou entre os 61% nos Açores e os 68% no Norte, Centro e Alentejo, ao passo que para o processo completo variou entre 50% na Madeira e 58% no Alentejo.
Até ao relatório de vacinação da semana 25, que apenas tinha números até 27 de junho, este processo não ia além dos 5.335.683 (52%) com vacinação iniciada e 3.295.132 (32%) com o esquema vacinal completo. Existiam ainda assimetrias regionais assinaláveis, como a variação entre os 48% nos Açores e os 57% no Alentejo de cobertura com primeira dose e de 28% em Lisboa e Vale do Tejo e 37% no Algarve.
Houve, por isso, um crescimento de 28,7% na cobertura vacinal da população com primeiras doses e um acréscimo de cerca de 1,5 milhões de pessoas inoculadas (ou 15 p.p.); quanto à vacinação completa, houve uma subida de 20 p.p. e uma variação ligeiramente acima dos dois milhões de pessoas, em termos absolutos, do final de junho para o final de julho.
C/Lusa