Ao todo, são 171 os locais atingidos, muitos deles destruídos, de museus a instalações universitárias, de bibliotecas a igrejas e catedrais, de escolas a edifícios históricos e de interesse cultural, como as igrejas da Natividade e da Santíssima Trindade, em Kyiv, o Memorial do Holocausto, em Kharkiv, o Museu de Belas Artes de Odessa, e os museus de Mariupol e Melitopol, ambos sujeitos a destruição e saque, como denunciaram as autoridades ucranianas e verificou em reportagem, em maio, o jornal The New York Times.
Os números mais recentes da UNESCO, relativos a património cultural atingido, danificado ou mesmo destruído pela guerra, identificam 74 sítios de natureza religiosa, 13 museus, 33 edifícios históricos e 26 edifícios destinados a atividades culturais, contando-se ainda 17 monumentos e oito bibliotecas.
O levantamento da UNESCO, atualizado este mês, contabiliza, entre outros, 47 sítios danificados ou destruídos na região de Donetsk, a maioria em Mariupol, 42 na área de Kharkiv, 26 locais na área de Kyiv, 18 em Lugansk, e 14 sítios atingidos na região de Chernihiv, identificando ainda mais de duas dezenas de casos de património cultural atingido ou devastado nas regiões de Zaporizhzhya, Zhytomyr, Sumy, Mykolaiv e Vinnytsya.
Até à data, nenhum sítio classificado como Património Mundial, pela UNESCO, “parece ter sido danificado”, afirma a organização.
A UNESCO tem estado a efetuar uma avaliação preliminar dos danos em bens culturais, cruzando os incidentes relatados com várias fontes fiáveis, alertando para os dados publicados, atualizados regularmente, não comprometerem a Organização.
Em paralelo, a UNESCO está a desenvolver, com organizações parceiras, um sistema para avaliação independente de coordenação, dos dados na Ucrânia, incluindo análise de imagens de satélite, de acordo com as disposições da Convenção de Haia de 1954, para a Proteção de Bens Culturais em Caso de Conflito Armado.
Entretanto, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) e o Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM) empreenderam uma missão conjunta que decorreu na primeira quinzena de julho passado, para dar apoio aos esforços do Ministério da Cultura e da Política de Informação da Ucrânia, assim como às organizações do património e profissionais no país, na atual conjuntura de conflito bélico, divulgaram hoje aquelas entidades.
Numa reunião com o ministro ucraniano da Cultura e da Política de Informação, Oleksandr Tkachenko, foram debatidas as possibilidades de “assistência técnica e formação para a proteção do património cultural que enfrenta um risco iminente, devido à guerra em curso”, lê-se no comunicado divulgado pelo ICOMOS.
Nesta reunião participaram outros responsáveis como a diretora-adjunta do ministério ucraniano, Kateryna Chuieva, e representantes da Fundação ALPHI, cujo trabalho se centra na proteção da herança cultural em zonas de conflito.
O ICOMOS e o ICCROM “ofereceram a sua assistência na estabilização do património que foi danificado”.
No seu portal na Internet, a ALIPH afirma que, “desde as primeiras horas do conflito na Ucrânia”, se mobilizou “para ajudar a proteger o património cultural e os profissionais do património do país”.
“A Fundação entrou rapidamente em contacto com organizações internacionais de património e autoridades ucranianas e, por meio de redes polacas e moldovas, a ALIPH abordou profissionais ucranianos para avaliar e responder às necessidades no terreno”.
No passado mês de março, a ALIPH adotou o Plano de Ação Ucraniano, com um fundo financeiro inicial de dois milhões de dólares norte-americanos (cerca de 1,96 milhões de euros, ao câmbio atual) para projetos, e desde então, aumentou o valor para três milhões (cerca de 2,94 milhões de euros).
A delegação internacional reuniu-se ainda com autoridades locais, organizações não-governamentais e académicos nas cidades de Kiev, Chernihiv e Lviv, incluindo membros do ICOMOS-Ucrânia e do ICCROM.
A delegação visitou também as cidades da região de Kiev – Hostomel, Borodyanka e Bucha – e as aldeias da região de Chernihiv -Lukashivka e Yahidne.
“As visitas não foram limitadas aos principais sítios do património cultural, como a Catedral de Santa Sofia, e os edifícios monásticos associados, KyivPechersk Lavra, que faz parte da Lista do Património Mundial, mas também áreas urbanas e rurais, assim como zonas naturais, como a floresta de Mykulychi na região de Kiev. Em Chernihiv, foi realizado um teste no terreno utilizando a aplicação de avaliação dos danos e riscos do património cultural, desenvolvida pela ICCROM”, lê-se no mesmo documento.
No comunicado ICOMOS, é realçada a ação da Iniciativa de Resposta a Situações de Emergência do Património (HERI), “que está ativamente envolvida nos primeiros socorros e na recuperação do património afetado na Ucrânia”.
Da delegação internacional fizeram parte a belga Teresa Patrício, presidente do ICOMOS, a turca Zeynep Gül Ünal, vice-presidente do ICOMOS e do seu Comité Científico Internacional de Preparação de Riscos, coordenadora pelo ICOMOS Equipa de Intervenção de Acompanhamento e Resposta à Crise na Ucrânia, e Aparna Tandon, que chefia o Programa Sénior “Resilience for Cultural Heritage in Times of Crisis & Sustaining Digital Heritage Programmes”, do ICCROM.