O Presidente da República dedicou a intervenção na sessão solene comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Abril às Forças Armadas, realçando a guerra em curso na Ucrânia, invadida por forças russas há 60 dias, e pediu "mais meios imprescindíveis", além de "um consenso nacional continuado e efetivo" para fortalecer este "pilar crucial".
Marcelo Rebelo de Sousa, que é também Comandante Supremo das Forças Armadas, pediu que se atue agora, advertindo: "Se não quisermos criar essas condições, não nos poderemos queixar de um dia descubramos que estamos a exigir missões difíceis de cumprir por falta de recursos, porque, se o não fizermos a tempo, outros o exigirão por nós, e depois não nos queixemos de frustrações, desilusões, contestações ou afastamentos".
No início do seu discurso, o chefe de Estado enalteceu também os capitães de Abril e defendeu que o seu "gesto refundador" deve ser agradecido "pense-se o que se pensar sobre o que foram antes e depois".
Momentos antes, na sua intervenção, o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, sustentou que a abertura de Portugal ao mundo é um bem precioso em tempos de ódio e está enraizada numa História de multissecular emigração que estruturou uma sociedade coesa.
No que toca aos partidos, o primeiro a subir ao púlpito da Sala das Sessões foi o deputado único do Livre, Rui Tavares, que enalteceu o acesso ao ensino público para todos como uma das maiores conquistas do 25 de Abril de 1974, um dia que “valeu por séculos”.
Depois, Inês Sousa Real, deputada única do PAN, defendeu que é preciso tornar efetiva a emancipação das mulheres, salientando que "Abril ainda não tem rosto de mulher".
Pelo BE, o deputado José Soeiro afirmou que a revolução “não é um património a ser velado com zelo, mas um legado para iluminar as contradições do presente”, considerando que quase 50 anos depois falta ainda “quase tudo” a Portugal.
Já o PCP, pela voz da líder parlamentar, Paula Santos, insurgiu-se contra a “imposição do pensamento único” e a “hostilização de quem livremente emite uma opinião divergente”, rejeitando o que considerou serem “tentativas de intimidação” do partido com a finalidade de silenciar a sua intervenção.
O deputado Bernardo Blanco, da IL, defendeu que “falta a Portugal o inconformismo de Abril para romper a estagnação” e usou a guerra na Ucrânia para evidenciar que “a democracia é difícil de conquistar mas fácil de perder”.
André Ventura, do Chega, aproveitou para enumerar o que considera que "falhou" e pediu ao Presidente da República para não condecorar "aqueles que torturaram, mataram e expropriaram", sem especificar a quem se referia.
O líder do PSD, Rui Rio, considerou que a solução para travar o crescimento dos extremismos não passa por "absurdos cordões sanitários”, mas por “ter o rasgo de fazer diferente” e reformar “sem cobardia nem hipocrisia”.
Pelo PS, o vice-presidente da bancada Pedro Delgado Alves evocou a ação do antigo Presidente da República Jorge Sampaio (que morreu no ano passado) na resistência à ditadura e como construtor da democracia pluralista e pediu atenção aos cidadãos instrumentalizados pelo populismo.
Também o Presidente da República lembrou "com muita saudade" Jorge Sampaio, elogiando-o pela "constante militância cívica que pautou a sua vida por Portugal".
No final da sessão, em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos, quase todos os partidos realçaram a escolha do tema por parte do Presidente da República e concordaram com o reforço dos meios para a Defesa dado o contexto atual.
A cerimónia ficou também marcada por uma interrupção de alguns minutos, na sequência de um desmaio de um funcionário da Assembleia da República.
No final da sessão solene, foi cantada a “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, momento no qual toda a bancada do Chega abandonou o hemiciclo.
No exterior da Assembleia da República, cerca de 60 manifestantes apuparam o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro no momento em que estes deixavam o edifício depois da cerimónia.