“Ter uma luz do dia, sairmos todos da escuridão. Não é só ter promessas politicas e nada ser feito”, reclamou António Santos, 50 anos, muitos deles vividos na rua, numa conversa telefónica com a Lusa.
Segundo este sem-abrigo, um dos organizadores do protesto, é preciso fazer uma manifestação, "para o Presidente da República e o primeiro-ministro verem" que estas pessoas também necessitam de conforto.
“A gente precisa de um conforto, precisa de uma casa, precisa de uma morada. A gente vai a uma entrevista de trabalho e que morada é que vai dar? Da rua?”, afirmou António Santos, sublinhando: “Queremos todas as condições para um cidadão viver”.
Entre as propostas que levam para este protesto – que contam juntar mais de mil manifestantes, entre sem-abrigo, outras pessoas em situação precária e qualquer cidadão que se queira solidarizar com a causa – os sem-abrigo sugerem que o dinheiro da segurança social gasto pelos albergues com os utentes seja dado aos próprios, e que as casas fechadas e abandonadas sejam disponibilizadas para esta população viver.
“A própria câmara tem casas fechadas, a Santa Casa tem casas fechadas, podiam abrir as portas para tirar o pessoal da rua. A gente precisa de conforto não é só na altura das eleições ou na altura do Natal. Todos os dias precisamos de conforto. Ou vão abrir as estações do metro para os sem-abrigo dormirem só quando faz muito frio? Todos os dias faz frio, todos os dias faz calor”, desabafou.
A ideia da manifestação partiu da cabeça de António Santos e de um colega, durante uma noite em que falavam sobre a sua situação.
“Temos que fazer alguma coisa pelos sem-abrigo, já que o próprio Estado e a própria Santa Casa não fazem nada. Nós próprios, sem abrigo, é que vamos fazer alguma coisa (…) para tocar no coração dos políticos, para ver se têm consciência e verem o que está a acontecer no país: cada vez há mais sem-abrigo na rua”.
António Santos lamentou que “Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, prometeu que até ao fim do mandato tirava as pessoas da rua, e afinal é mentira”.
“Apelo a todos os que estão sem trabalho e sem casa que apoiem segunda-feira os sem abrigo”, disse, lembrando que há muita gente que está agora desempregada e a deixar de ter dinheiro para pagar quartos e casas: “como vão fazer a vida? Têm que vir para a rua, dormir na calçada portuguesa”.
Manifestando mágoa pela forma como tanto os poderes central e local, como a sociedade civil trata esta população, António Santos afirmou: “Há cães que têm melhor vida do que os sem abrigo, nós somos invisíveis para a sociedade portuguesa”.
A manifestação está agendada para segunda-feira, a partir das 10:00, em frente à Assembleia da República, sendo a primeira alguma vez organizada pelos próprios sem-abrigo, sem intermediários, “sem sindicatos, sem partidos, sem associações”.
C/Lusa