A Samsung suspendeu hoje a produção do Galaxy Note 7, parou as vendas do modelo em todo o mundo e pediu aos utilizadores para não usarem o dispositivo, na sequência de casos persistentes de explosão e combustão do modelo.
A decisão do gigante tecnológico sul-coreano é uma tentativa de parar uma bola de neve que não tem parado de crescer desde o alerta recente do regulador norte-americano dos consumidores para o perigo potencial para os consumidores, famílias e respetivos lares provocado pelo Note 7.
"Reajustámos recentemente o volume de produção para reforçar a investigação e o controlo de qualidade, mas colocamos a segurança dos consumidores como prioridade máxima, pelo que tomámos a decisão final de parar a produção do Galaxy Note 7", anunciou hoje a empresa em comunicado.
Os consumidores do Note 7 em todo o mundo vão poder reaver o dinheiro dos aparelhos ou reinvesti-lo na aquisição de quaisquer outros modelos da empresa.
A notícia provocou a queda aparatosa do maior fabricante mundial de ‘smartphones’ na Bolsa de Seul – onde as ações da Samsung caíram mais de 8% no fecho da sessão de hoje – a maior perda de valor em oito anos — perante os receios de que este episódio cause danos sérios à saúde financeira da companhia.
A Samsung recolheu há pouco mais de um mês 2,5 milhões unidades do Note 7 em dez mercados em todo o mundo, numa reação a queixas dos consumidores de que a bateria de íon-lítio explodia quando recarregava.
Entretanto, foram surgindo notícias desde há uma semana de que o mesmo problema continuava a acontecer com unidades entretanto substituídas pela empresa.
As medidas drásticas anunciadas hoje pela Samsung traduzem um desastre a vários níveis, a começar pelo da comunicação, numa empresa que tem desde sempre feito bandeira do seu orgulho na inovação e qualidade.
"Se fosse só uma vez, poderia ser tomado por um erro. Mas no caso da Samsung, o problema aconteceu duas vezes com o mesmo modelo, portanto os danos na confiança dos consumidores vão ser consideráveis", afirmou Greg Roh, analista da consultora financeira sul-coreana HMC Investments Securities, à agência France Press.
"O motivo por que os consumidores preferem marcas como a Samsung e a Apple é porque são seguras… portanto, neste caso, os danos na credibilidade da marca são inevitáveis e vai ser difícil à Samsung dar a volta a isto", acrescentou Roh.
Um dia depois de anunciar que estava a "ajustar" o volume da produção de Note 7 para acomodar as preocupações com a inspeção e controlo de qualidade, a Samsung optou por parar totalmente a produção anunciando que coloca a "segurança dos consumidores no topo das suas prioridades".
Horas antes, tinha dado instruções aos seus parceiros no retalho em todo o mundo para suspenderem as vendas e trocas do Note 7 enquanto não terminasse uma investigação aprofundada aos defeitos do aparelho.
A empresa tinha também aconselhado os consumidores a "desligar e a deixar de usar" o modelo Note 7, um aviso que reproduzia um alerta semelhante lançado pelo presidente da Comissão norte-americana para a Segurança dos Produtos de Consumo, Elliot Kaye.
"Ninguém deveria estar preocupado que o seu telefone o ferisse, causasse ferimentos à sua família ou danos à sua casa", afirmou Kaye num comunicado de imprensa.
A decisão da Samsung de parar as vendas e as trocas foi "a mais certa", afirmou ainda, indicando que a comissão a que preside está a investigar vários casos de sobreaquecimento de telemóveis em vários estados norte-americanos.
A Administração Federal da Aviação norte-americana emitiu uma recomendação a todos os passageiros para desligarem, não usarem, carregarem ou guardarem em bagagem quaisquer dispositivos Samsung Galaxy Note 7, originais ou substituídos.
Os analistas têm sugerido que a Samsung — envolvida numa competição feroz no saturado mercado de ‘smartphones’ — pode ter precipitado o lançamento do Note 7 para fazer face ao lançamento do iPhone 7 do seu maior rival, a Apple.
O topo de gama da Samsung era fundamental para os planos de crescimento este ano da empresa, pressionada pela Appple no segmento de topo do mercado e por várias marcas chinesas nas entradas de gama.
Linda Sui, diretora da Strategy Analytics, uma consultora do mercado dos ‘smartphones’, afirmou à AFP que a Samsung poderá perder uns "10 mil milhões de dólares ou mais" com a decisão de recolher os Note 7.
"E o impacto na imagem da marca e na confiança dos consumidores será ainda pior", afirmou Sui, considerando que a Samsung poderá ser forçada a descontinuar completamente o Note 7.
C/Lusa