“Uma sentença tão dura parece ser um claro exemplo para todos os restantes mercenários que lutam do lado dos neonazis ucranianos ou que têm a intenção de se juntar a eles”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova.
A porta-voz russa reforçou que os condenados, dois britânicos e um marroquino que lutavam ao lado das tropas ucranianas, cometeram “crimes contra a população civil de Donbass”.
Os três prisioneiros – Aiden Aslin, Shaun Pinner e Saaudun Brahim – foram na semana passada julgados por um tribunal da autoproclamada República Popular de Donetsk por atividades mercenárias e terrorismo, depois de terem sido capturados na região de Mariupol.
Apesar dos prisioneiros terem admitido parte da culpa em julgamento, nenhum deles reconheceu ter participado nas ações militares na Ucrânia enquanto mercenário.
Os dois britânicos, de 28 e 48 anos, viviam em território ucraniano desde 2018 e ambos faziam parte do Exército ucraniano antes de a guerra eclodir.
O pai do condenado marroquino, Taher Saadoun, em declarações a um jornal online de Marrocos, também garantiu que Saadoun não era um mercenário e que detinha a cidadania ucraniana.
O crime, em tempos de paz, pode ser punível com até 20 anos de prisão, mas em caso de guerra a pena pode chegar à sentença de morte, que acabou por ser confirmada pelo procurador, Andrei Spivak.
Segundo a agência de notícias russa RIA Novosti, os condenados podem enfrentar um pelotão de fuzilamento, tendo um mês para recorrer desta pena.
O presidente da Duma Estatal da Federação russa, Vyacheslav Volodin, concordou em ser necessário manter a pena de morte na República Separatista de Donetsk “sobretudo em tempos de guerra”.
Segundo Volodin, os soldados que “ordenam disparar contra civis ou que executam estas ordens devem compreender que estão a cometer crimes que implicam o castigo mais duro”.
Em Londres, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, manifestou-se "horrorizado" com as sentenças de morte e exigiu que os condenados sejam tratados enquanto prisioneiros de guerra e não mercenários.
“Estamos naturalmente muito preocupados. Repetimos que prisioneiros de guerra não devem ser aproveitados para causas políticas” disse um porta-voz do primeiro-ministro britânico, lembrando que "nos termos da Convenção de Genebra, os prisioneiros de guerra não devem ser julgados pela sua participação nas hostilidades".
Por sua vez, a chefe da diplomacia britânica, Liz Truss, denunciou este processo como sendo “um simulacro de julgamento, sem qualquer legitimidade” e garantiu que o Reino Unido está a “trabalhar intensamente” para libertar os concidadãos condenados.
No entanto, o representante do Kremlin, Dmitri Peskov, avançou, na terça-feira passada, que a Rússia ainda não tinha sido contactada por Londres para debater a situação dos prisioneiros britânicos condenados em Donetsk.
“Tudo depende do pedido de Londres e estou convencido de que o lado russo está pronto para ouvi-lo”, comentou Peskov.
Estes serão os primeiros combatentes estrangeiros a serem condenados pelos separatistas pró-russos, cujo julgamento já foi considerado pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos como um "crime de guerra".
A Rússia, que frequentemente denuncia a presença de mercenários, afirmou na semana passada ter matado "centenas" de combatentes estrangeiros desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.
O número exato desses combatentes estrangeiros não é conhecido.
No início de março, logo após o início da invasão russa, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que 16.000 estrangeiros se apresentaram como voluntários, um número não verificável de fontes independentes.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 15 milhões de pessoas de suas casas – mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou que 4.452 civis morreram e 5.531 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 112.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
Lusa