Com sede em Roma e a operar na Ucrânia desde o início da guerra, o PAM indica ter até agora fornecido ajuda alimentar a 1,4 milhões de pessoas naquele país, segundo um comunicado da agência das Nações Unidas.
Não foi, no entanto, autorizado a entrar nas zonas de conflito, nomeadamente na cidade portuária sitiada de Mariupol, no sul do país, onde cerca de 100.000 pessoas estão ainda encurraladas pelo exército russo, e na cidade de Mykolaiv, a leste de Odessa, fortemente bombardeada.
“Pedimos a todos que nos deem o acesso de que precisamos para chegar aos habitantes das cidades cercadas”, declarou o diretor-executivo do PAM, David Beasley, citado no comunicado.
“Uma coisa é quando as pessoas sofrem com a destruição da guerra. Outra coisa é estarem a morrer de fome”, sublinhou, no final de uma visita de três dias à Ucrânia.
A maior agência humanitária do mundo, o PAM quer entregar alimentos a 2,3 pessoas em abril, mas insiste que necessita de uma via de acesso segura para o fazer.
Nas zonas em redor da capital ucraniana, Kiev, de onde o exército russo retirou, como Bucha, Gostomel ou Irpin, a agência está a distribuir massas, arroz, óleo de culinária e conservas de carne aos civis.
A natureza dinâmica do conflito, pela qual os combates se afastaram de zonas próximas da capital e em direção ao leste do país, tem tornado especialmente difícil chegar aos ucranianos com fome.
O PAM está a tentar colocar agora reservas de alimentos em zonas que poderão ser atingidas pelos combates, mas Beasley reconhece que há “muitas dificuldades” porque a situação rapidamente se altera.
Mais de sete milhões de pessoas estão deslocados no interior da Ucrânia e as cadeias de abastecimento normais que permitem entregar alimentos à população encontram-se “quebradas em muitas regiões”, alertou o PAM.
A falta de acesso é parte do problema, sublinhou, mas outra parte é a escassez de mão-de-obra e de combustível, porque os recursos estão a ser desviados para o esforço de guerra.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, mais de 5 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU – a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e “desmilitarizar” a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
O conflito, que entrou hoje no 51.º dia, já matou quase dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
Lusa