O Sindicato dos Professores da Madeira (SPM) vai apresentar, no seu auditório, o relatório do Inquérito sobre o Bem-Estar, Desgaste e Envelhecimento dos Professores na Região Autónoma da Madeira, coordenado por Henrique Oliveira, do Instituto Superior Técnico de Lisboa, com o objetivo de “conhecer, a fundo, a realidade regional”, assentando nas respostas de cerca de 1.290 docentes de todas as escolas da região.
Segundo um resumo divulgado pelo SPAM, a que a Lusa teve acesso, os resultados mostram uma forte correlação entre a idade e os elevados índices de desgaste e ‘burnout’.
“Os professores e os educadores com mais de 45 anos têm um risco significativamente maior (160%) de apresentar altos níveis de esgotamento emocional (com um intervalo de confiança de 95% para o aumento do risco, situando-se entre 137% e 184%)”, lê-se no documento.
O inquérito, com erro máximo de 2,7% e confiança a 95%, aborda “conceitos como desgaste profissional e ‘burnout’, distinguindo entre desgaste físico e psicológico”, com o ‘burnout’ a caracterizar-se “por exaustão emocional, despersonalização e sensação de baixa realização profissional, exacerbados por condições laborais adversas”.
A metodologia assentou em questionários ‘online’ para recolher dados demográficos e informações sobre o bem-estar emocional e físico dos docentes, numa análise exaustiva que incluiu 158 questões.
“O estudo indica que a mediana etária dos professores e educadores na Madeira é superior a 50 anos, com muitos docentes enfrentando jornadas de trabalho superiores a 35 horas semanais (mediana de 38 horas) e levando trabalho para casa devido às exigências burocráticas e trabalhando de madrugada e aos fins de semana”, salienta-se no documento.
O número de filhos por professor na região da Madeira “anda, em média, pelos 1,3, um número baixo”, sendo que a “maioria dos respondentes é do sexo feminino (quase 80%) e quase 65% é casado ou vive em união de facto”, e “um número muito residual (0,2%)” não se identifica com o género masculino ou feminino.
“Uma esmagadora maioria (ao nível dos 75%) dos docentes gostaria de se aposentar antes do tempo legalmente estabelecido e desejaria a reforma antecipada (quase 60%), se isso não fosse tão penalizador do ponto de vista financeiro”, destacou o relatório.
O histograma do esgotamento emocional mostra que a distribuição de esgotamento emocional entre os docentes é preocupante, uma vez que tendo em conta os níveis normal (1), acima do normal (2), muito acima do normal (3), elevado (4) e extremo (5), “a maioria situa-se em níveis muito acima do normal até ao extremo”.
“Esta distribuição simétrica indica que muitos docentes estão em risco. Uma distribuição numa população sem risco teria os níveis 1 e 2 (somados) com mais de 60% e deveria ser decrescente”, apontou o estudo.
O histograma do distanciamento, por seu lado, “mostra que esta distribuição entre os professores e educadores é menos preocupante do que a do esgotamento”, apresentando “uma distribuição decrescente nos níveis superiores, no entanto, alguns docentes já mostram sinais de distanciamento ao nível 2, o que já é um ponto de alerta”.
“Os respondentes masculinos exibem sinais mais elevados de distanciamento”, acrescenta-se.
Na análise da perceção negativa da profissão, o estudo revelou que “uma parcela significativa (55%) dos respondentes não recomendaria a profissão a amigos, refletindo insatisfação e desgaste generalizado”.
No distanciamento dos educandos, quase 30% dos professores e educadores “sentem, pelo menos algumas vezes, que se têm tornado mais insensíveis com o tempo, o que é um indicador preocupante de distanciamento emocional”.
“A burocracia excessiva (77%) e a necessidade de levar trabalho para casa são citadas como fatores principais que contribuem para o aumento do desgaste emocional”, notou-se no resumo, existindo ainda a perceção de que as exigências profissionais “são demasiado elevadas (65% refere esse facto), tornando impossível acompanhar individualmente todos os alunos”, com 73% a referir que não o consegue fazer.
Para mitigar o desgaste e o esgotamento emocional, o estudo recomenda a redução da carga horária e burocrática, apoio psicológico e desenvolvimento profissional, valorização social e reconhecimento, melhoria das condições de trabalho e participação ativa dos professores e educadores nas decisões.
Lusa