Em 2016 na Madeira foram analisadas 22 amostras de alimentos obtidos através de produção biológica, e nenhuma revelou qualquer situação irregular face à legislação aplicável. A garantia vem da Direção Regional de Agricultura, na sequência da polémica recentemente levantada por um artigo da revista Visão sobre uma alegada fraude nos produtos biológicos.
A revista Visão divulgou na passada semana um trabalho que inclui a análise em laboratório de 113 produtos — frutas, legumes e sementes – identificados nas lojas como biológicos. Nalguns deles foram encontrados pesticidas não permitidos na agricultura biológica e numa das análises efetuadas, a uma couve identificada como proveniente da agricultura biológica, foi encontrada uma quantidade de glifosato 12 vezes superior ao máximo permitido por lei para couves de produção convencional.
O glifosato foi considerado pela Agência Internacional de Pesquisa em Cancro (da Organização Mundial de Saúde) como "provavelmente cancerígeno".
Em declarações a Lusa, o presidente da Agrobio reagiu com cautela relativamente ao conteúdo do trabalho jornalístico, sublinhando: "o que lhe posso dizer é que identificar agroquímicos não autorizados em produtos biológicos é fraude. Deliberado ou por negligência, pois pode ser por contaminação".
Face à gravidade destes indicadores, Jaime Ferreira diz que, a ser verdade, se trata de um problema de saúde pública: "Isto tem de ser colocado às autoridades competentes e elas têm de responsabilizar quem foi responsável por colocar esses produtos no mercado".
"A quantidade [de glifosato] pode ser de tal forma grave que é um problema de saúde pública e devia ser imediatamente denunciado à ASAE — Autoridade de Segurança Alimentar e Económica", afirmou o responsável, sublinhando: "pode haver pessoas que estejam a comer estes produtos e [que possam] ter problemas graves de saúde. Isto não pode ser uma coisa [abordada de forma] ligeira".
O responsável disse ainda que a Agrobio vai "examinar ao detalhe" o trabalho hoje divulgado pela Visão e os dados revelados. "Se houver responsabilidades a apurar vamos até ao limite das responsabilidades".
De acordo com dados da Direção Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), em 2015, a superfície de terrenos em agricultura biológica atingiu os 239.864 hectares (ha), equivalente à área do distrito do Porto, traduzindo, por um lado, a consolidação da produção biológica e, por outro, a resposta a um novo regime de apoios.
O número de produtores agrícolas biológicos tem vindo a aumentar durante a última década e em 2015 chegou aos 3.837.