A comunidade luso-venezuelana está na "expetativa" em quanto ao "futuro político imediato" da Venezuela, país onde a oposição obteve, pela primeira vez em 16 anos, a maioria nas eleições parlamentares de domingo.
"Temos que celebrar que tudo decorreu em paz. Agora virão mudanças importantes para o país, já em janeiro, quando o novo parlamento tomar posse", diz Ricardo Faria, comerciante português de 56 anos, apoiante da Mesa da Unidade Democrática (MUD), que obteve 99 assentos no Parlamento, contra 46 do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), de Nicolás Maduro.
Agora, seguem-se "momentos de expetativa porque aqueles que eram oposição passarão a ser maioria e os que até agora mandavam passarão a ser oposição", salienta o comerciante, que nunca acreditou numa vitória tão esmagadora.
"Esperava que a oposição conseguisse ficar melhor posicionada que antes, mas nunca cheguei a imaginar que a diferença em votos pudesse ser tão grande", salienta.
Agora, "é importante que todos entendamos que o país continua. Os resultados são uma lição, tanto para a oposição como para o ‘chavismo’, estes últimos porque perderam e isso indica que se distanciaram do sentimento do povo", afirma.
Agora, os opositores "terão a desafiante tarefa de interpretar esses sentimentos, reencaminhar o país, preservar a paz e promover o entendimento", refere.
Já Beatriz Andrade, doméstica e apoiante do ‘chavismo’, também se mostra surpreendida com os resultados e diz ter dificuldades para entender "como os revolucionários perderam tanto".
Agora, teme que a oposição suspenda algumas "missões", nome pelo qual são conhecidos os programas de assistência social criados pelo Governo venezuelano.
"Temos a missão habitação, as missões de educação, de saúde, entre outras e venda de alimentos a preços subsidiados, que, não foram suspensas ou reduzidas, mesmo com o país em crise", enumera.
No entanto, admite que "alguma coisa falhava" no modelo de gestão do país. "Nos últimos meses, as pessoas queixavam-se muito de coisas como a falta de produtos, dos altos preços de algumas coisas e da criminalidade", recorda
Já Maria Almeida, professora, ouviu os resultados "muito esperançada" de que a oposição teria "uma vitória esmagadora", Agora, a Venezuela trilhará "novos rumos".
"São momentos de felicidade, de alegria, de esperança. Por fim temos uma luz ao fundo do túnel. Abriu-se uma nova porta para a Venezuela, que vai demorar, mas pelo menos já temos uma luz, uma esperança, coisa que antes não tínhamos", afirma.
Por outro lado, explicou que "quem anda na rua, no dia a dia, e apalpa o sentimento do povo, sabia que estas eleições seriam importantes e que a oposição teria uma maioria esmagadora", acrescenta.
A crise económica tem afastado muitos lusodescendentes do país, mas agora Maria Almeida acredita que será possível inverter a tendência.
"Com estes resultados temos mais um motivo para permanecer na Venezuela", diz.
A oposição beneficiou do forte descontentamento popular na Venezuela com uma crise económica provocada pela queda do preço do petróleo, que detém das maiores reservas de crude do mundo, mas está atualmente a braços com uma situação de escassez de alimentos e bens de primeira necessidade.
Os resultados eleitorais traduzem uma viragem histórica depois da chegada do poder do ‘chavismo’ (de Hugo Chávez) em 1999, apesar de diversos analistas advertirem que Nicolás Maduro pode tentar limitar os poderes do parlamento para contrariar esta vitória, arriscando desencadear protestos.