De acordo com a Ordem dos Nutricionistas, o estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) conclui que o aporte calórico médio diário aumentou face à última análise (2012-2015) e que “representa duas vezes o valor recomendado para um adulto com um peso médio saudável”.
“A Ordem dos Nutricionistas considera os dados “assustadores” e pede ação urgente ao Governo, exigindo que a política interministerial de promoção de uma alimentação saudável tenha mais ritmo e intensidade para acabar com as escolhas erradas que têm resultados nefastos para a saúde dos portugueses”, realça em comunicado.
Ainda assim, do período analisado, a Ordem dos Nutricionistas salienta a redução de consumo de refrigerantes e o reforço da liderança do consumo de água.
“Como vemos as medidas intencionalmente desenhadas para combater os problemas baseadas na evidência científica são efetivas. Estes tipos de medidas podem e devem ser intensificados pela Assembleia da República e pelo Governo a quem se exigem ações imediatas pela saúde de todos nós”, reforça a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento.
Por força do confinamento, devido à pandemia, em 2020, foi registado um “ligeiro decréscimo do aporte calórico e um aumento da inatividade física”.
“A ligeira diminuição das calorias ingeridas durante o ano transato, que ainda assim são muito elevadas face às necessidades, terá pouca expressão, num período marcado por uma diminuição drástica da atividade física”, indica.
Alexandra Bento anota que “essencial que se inicie um estado alargado ao estado de saúde dos portugueses no período pós-pandémico, nomeadamente através de uma avaliação do estado nutricional da população portuguesa”.
Os portugueses consumiram, em média, duas vezes mais calorias do que o recomendando para um adulto entre 2016 e 2020, ano em que a pandemia provocou uma redução do consumo de alimentos diário, mas ainda excessivo, segundo o INE.
Os grupos de produtos alimentares com maiores desvios em 2020, face ao consumo recomendado pela Roda dos Alimentos, foram, por excesso, a “carne, pescado e ovos”, mais 11,9 pontos percentuais, contra 11,4 p.p. em 2016, enquanto por defeito foram os “frutos”, menos 4,7 p.p., e os “hortícolas”, menos 8,6 p.p, que compara com -6,5 p.p. e -7,2 p.p. em 2016, respetivamente, segundo a Balança Alimentar Portuguesa (BAP) 2016-2020, hoje divulgada.
A oferta de carne aumentou 8,7% neste período, com cada habitante a consumir diariamente, em média, 229,8 gramas e 83,9 quilos por ano, mais de quatro vezes o total das calorias recomendadas pela Roda dos Alimentos para uma dieta média de 2.000 calorias, refere a BAP, que mede o consumo alimentar do ponto de vista da oferta dos alimentos,
A maior oferta continuou a ser a carne de aves com 38,4%, seguida da carne de suíno (29,1%), embora tenha perdido representatividade (-2,8 p.p.).
A oferta de pescado aumentou 16,3%, e alcançou 62,7 gramas diárias por habitante, e os ovos 16,1%, com uma taxa média de crescimento anual de cerca de 4%. Em média, cada habitante comeu 178 ovos por ano, cerca de meio ovo por dia.
As quantidades diárias disponíveis de frutos por habitante dispararam 27%, mas o consumo médio diário de 278,7 gramas diárias por habitante ainda está aquém das quantidades recomendadas.
O consumo de hortícolas manteve-se relativamente estável, com cada habitante a consumir em média 285,8 gramas diárias (286,3 gramas em 2012-2015).
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o consumo de óleos e gorduras continuou a sua trajetória decrescente, reduzindo-se em 2,2%, bem como os açúcares adicionados que totalizaram 83,7 gramas diárias por pessoa, decrescendo 3,2%.
O consumo diário de café, cacau e chocolate tem vindo a subir há mais de dez anos, atingindo, em média, 25,8 gramas diárias por habitante,
Também se registou um aumento das quantidades diárias disponíveis per capita de bebidas alcoólicas, atingindo, em média, 110 litros anuais por habitante, refletindo um aumento de cerca de 14% face a 2012-2015, das quais 47,9 l/hab/ano de vinho e 57,6 de cerveja.
A BAP conclui que “as disponibilidades alimentares para consumo continuam a evidenciar “uma oferta alimentar excessiva e desequilibrada”, alertando que “o aporte calórico diário médio disponível para consumo por habitante neste período foi de 4.075 calorias”, superior às 3.954 calorias registadas em 2012-2015.